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América Latina ainda precisa do FMI, dizem economistas

A América Latina teve um bom crescimento econômico nos últimos cinco anos, mas ainda pode precisar do FMI se ocorrerem mudanças bruscas na liquidez global, disse na quinta-feira um comitê regional de economistas e ex-funcionários governamentais.

Apesar das críticas de vários políticos latino-americanos ao Fundo Monetário Internacional depois da crise argentina de 2001, o FMI ainda poderia ser útil para manejar períodos de turbulência nos mercados internacionais, segundo o Comitê Latino-Americano de Assuntos Financeiros (LASFRC, na sigla em inglês).

"A percepção atual é a de que ninguém quer o FMI nem precisa dele", disse Liliana Rojas-Suarez, do Centro de Desenvolvimento Global e ex-economista-chefe do Deutsche Bank para a América Latina.

"Cremos firmemente que a região continua vulnerável. Se não houver incêndios, isso não significa que o departamento de bombeiros deva ser fechado", comparou.

O comitê emitiu um comunicado prévio à reunião bianual do FMI e do Banco Mundial, no próximo fim de semana em Washington, dizendo que, se houver uma desaceleração econômica global, os mercados financeiros poderão experimentar tensões que afetarão os fluxos de capitais para os mercados emergentes, entre os quais a América Latina.

O risco de uma crise de liquidez é especialmente provável devido ao "rápido e significativo" aumento nos fundos de cobertura e dos grupos privados de valores que ainda não experimentaram condições adversas do mercado, segundo analistas.

A maior preocupação é que boa parte dos países latino-americanos depende de suas reservas para absorver possíveis turbulências, segundo os economistas.

"Há uma sensação de complacência porque a região acumulou um nível enorme de reservas comparado com o que tinha antes da crise russa de 1998, e o nível atual não tem precedentes", disse Ernesto Talvi, ex-economista-chefe do Banco Central do Uruguai.

Mas os países estão acumulando reservas emitindo valores, o que é preocupante, acrescentou, em lugar de elevá-las por meio de superávit fiscal.

Ele também citou o fato de os países que tiveram o melhor crescimento na região, Argentina e Venezuela, continuarem 15 por cento abaixo do nível de 1998. "Eles levariam dois ou três anos para se igualar (à região), para estarem onde estavam em 1998", afirmou.

Nos últimos anos, a América Latina registra seu maior crescimento desde a década de 1970, com inflação baixa.

Mas seus mercados financeiros domésticos ainda são relativamente pequenos, há compromissos pendentes em dólares e contas abertas de capital que são vulneráveis a mudanças repentinas na liquidez global, disseram os economistas.

Eles defenderam que o FMI estivesse mais presente na supervisão da macroeconomia da região e que avaliasse os riscos de contágio derivados do alto nível de integração das econômicas latino-americanas com os mercados internacionais de capital.

Um exemplo do que poderia acontecer é a crise russa de 1998, quando os investidores trocaram seus títulos russos por papéis com mais liquidez, como os de México e Brasil, disse Rojas-Suarez.

O banco também precisa criar um instrumento de liquidez que não desanime os países a solicitar ajuda do FMI, como a malfadada Linha de Crédito Contingente. Ao pedir esses créditos, ficava evidente que determinado país passava por problemas, razão pela qual os governos deixaram de usá-lo.

Essas mudanças são urgentes, disseram os economistas, e o FMI deveria buscar mecanismos que dêem qualificação automática para os países membros, examinando indicadores macroeconômicos e financeiros de longo prazo, como a estrutura de vencimento das dívidas.

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