A empresa controladora da companhia aérea American Airlines (a terceira maior dos Estados Unidos), a AMR Corporation, pediu concordata ontem para reestruturar suas atividades. No entanto, a medida não vai afetar o dia a dia do consumidor, assegura a companhia. Segundo comunicado divulgado pela empresa, não haverá cancelamento de voos e a venda de passagens continua, sem previsão de suspensão. Seu programa de milhagem, o AAdvantage, que tem 67 milhões de membros sendo 1,6 milhão no Brasil também está mantido.
"A American Airlines está operando seus voos dentro da programação, honrando suas passagens e reservas como de costume, e também executando reembolsos e trocas normalmente. O programa de fidelidade não será afetado. A American continua fazendo parte da aliança Oneworld e todas as parcerias de compartilhamento de voos continuam, possibilitando aos seus clientes ganhar e resgatar suas milhas em opções convenientes de voos no mundo todo", diz o comunicado. "Os clientes da American são sempre nossa prioridade máxima e podem continuar a confiar em nós", completa Thomas W. Horton, presidente da AMR, na nota.
No Brasil, a American tem acordo de compartilhamento de voos com a Gol. A empresa informou que seus planos de expansão no país estão mantidos. Hoje, a companhia voa para seis destinos (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Recife), a partir de três cidades americanas Nova York, Dallas e Miami. Em junho de 2012, Manaus será incluída na lista.
A aposta no Brasil reflete a estratégia da empresa de crescer em mercados emergentes. Com 70 frequências (voos de ida e volta) entre EUA e Brasil, a companhia é líder no transporte de passageiros entre os dois países, com 31,9% do mercado, seguida pela TAM (29,7%). Em 2010, 3,2 milhões de passageiros embarcaram com destino aos EUA e vice-versa, segundo dados da Agência Nacional de Aviação (Anac). Apesar de a AMR assegurar que nada mudará para os consumidores, a diretoria de fiscalização da Fundação Procon-SP notificou a American Airlines para que a empresa esclareça quais serão as consequências do pedido de concordata em suas operações no Brasil.
Disputas trabalhistas
Segundo o Wall Street Journal, a reestruturação durante um pedido de concordata de uma companhia aérea é bem menos dolorosa e perturbadora para os passageiros que para os credores, funcionários, aposentados, fornecedores, acionistas e até mesmo concorrentes da empresa. A American ficará menor, sem dúvida, e a redução dos horários de voos terá um impacto de longo prazo. No curto prazo, poderá mesmo haver uma "venda de concordata" para fazer com que os viajantes continuem comprando bilhetes da companhia.
As disputas com os sindicatos trabalhistas se tornarão mais intensas, com os trabalhadores sendo forçados a aceitar contratos que eles não aprovam. Isso poderá afetar o serviço que os viajantes recebem quando voam com a American Airlines. Mas, no longo prazo, a American deverá se recuperar da concordata com custos mais baixos, assim como ocorreu com a Delta e United Airlines.
Empresa teve prejuízo em 2010 enquanto rivais lucravam
Agência Estado
Por que a American Airlines pediu concordata após passar uma década tentando evitá-la? Porque a companhia não podia se dar o luxo de continuar perdendo dinheiro. No ano passado, a empresa foi a única grande companhia aérea norte-americana a ficar no vermelho. A AMR registrou um prejuízo líquido de US$ 471 milhões. A Delta teve um lucro líquido de US$ 593 milhões, enquanto a United reportou um lucro líquido de US$ 854 milhões. Esse ano deverá encerrar do mesmo jeito.
Os altos preços do petróleo afetaram acentuadamente os resultados da American. A companhia tem uma frota de aviões menos eficientes em consumo de combustível e o Tribunal de Falências poderá permitir que ela abandone mais rápido o arrendamento de aviões mais antigos, reduzindo sua programação de voos.
Mas os custos trabalhistas são a grande questão. A Delta, United e a US Airways usaram o Tribunal de Falências para forçar enormes concessões sobre salários, benefícios e regras trabalhistas para pilotos, comissários de bordo, mecânicos e funcionários em terra. Os sindicatos dos funcionários da American fizeram concessões à companhia em 2003, mas a empresa ainda tem os custos trabalhistas mais altos entre seus rivais.