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A Selic terá que passar por um ajuste que a leve a um patamar superior à taxa de juro neutro se o Banco Central quiser esfriar a demanda interna e segurar a inflação abaixo da banda superior da meta. Não será tarefa das mais fáceis, segundo analistas ouvidos pela Agência Estado, porque a confiança do consumidor tem frequentado as alturas diante do sentimento de que a economia vai bem e de que o mercado de trabalho tem estado generoso na oferta de empregos. Nem se cogita, neste caso, eventual intenção de se trazer a inflação para o centro da meta, de 4,50%. Isso parece ser uma ideia acomodada até mesmo dentro do governo. Tanto que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçou, na quinta-feira, que o IPCA neste ano não extrapolará as margens. "Mas vamos cumprir as metas dentro das margens", disse, acrescentando que, em anos de economia mais aquecida, a inflação geralmente é maior

A meta de inflação para este ano é de 4,5% com margens de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo para acomodar eventuais choques. De janeiro a maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial que serve de parâmetro para o regime brasileiro de metas de inflação acumula alta de 3,09%. No acumulado dos últimos 12 meses até maio, a inflação encontra-se em 5,22%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O fato, segundo alguns analistas, é que a economia brasileira, na esteira da geração de empregos e da formalização de tantos outros, está crescendo acima do seu potencial. E não é só isso. Junto com a formalização do mercado de trabalho, o nível de confiança se eleva não só entre os tomadores de crédito, mas também entre as instituições financeiras que o concedem. Se o consumidor está empregado, a possibilidade de ele pagar suas contas se amplia. Mas se além de estar empregado o contratante de crédito está com sua carteira de trabalho assinada, mais segurança o credor tem de que receberá o dinheiro emprestado e mais coragem o consumidor tem para contrair uma dívida. Em maio, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu 0,6% em relação a abril, na série com ajuste sazonal. A fundação também revisou no mês passado a taxa do ICC de abril, de 3,5% para 3,6%.

Outro indicador pouco difundido como instrumento de segurança para o mercado de crédito, tanto na ponta de quem pede emprestado como de quem empresta - e que tem ganhado força a reboque da formalização do mercado de trabalho - é o processo de bancarização. O cliente com conta em banco, teoricamente, é uma pessoa que tem seu nome limpo. Os dados disponíveis mais recentes sobre os números de contas correntes e poupança da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) são de 2009, mas já dão uma noção do crescimento de abertura de contas em bancos nos últimos anos. De 2007 a 2009, o total de contas correntes no Brasil cresceu 19%, de 112 milhões em 2007 para 134 milhões em 2009. O número de cadernetas de poupança evoluiu 10,97%, de 82 milhões para 91 milhões no mesmo período.

A massa salarial, que é o resultado do aumento do emprego e da renda, de acordo com projeções da Tendências Consultoria Integrada, deverá crescer neste ano algo em torno de 6,3% sobre 2009, que no confronto com 2008 havia crescido 3,9%.

Para o economista da consultoria Bernardo Wjuniski, em função do crescimento do emprego e da renda, mesmo com a retirada dos estímulos econômicos - e isso passa também pelo aumento de juros - a demanda continuará a crescer, o que poderá levar o BC aumentar mais a taxa de juros. Ele diz concordar com a tese de que para desaquecer a demanda e manter a inflação sob controle a taxa de juros terá que ser elevada a um patamar superior à considerada neutra. No mercado, a taxa de juros neutra, considerando a expectativa de inflação de 5,61%, de acordo com a Focus, seria algo perto de 11%. "Nossa curva de juros leva a uma taxa de 12,25%. Faz sentido essa história de crescimento acima do potencial", acrescenta o economista da Tendências.

Wjunisk até acredita que deva ocorrer alguma redução no volume de concessão de crédito, mas não uma retração significativa da oferta. "Os condicionantes de demanda são vários. Um deles é o crédito, que em uma primeira etapa pode refletir os aumentos de juros. "Mas o canal do emprego só é afetado em uma segunda etapa", afirma Wjunisk, acrescentando que ninguém imagina retração destes canais, mas sim que se consiga estabilizar o crescimento econômico perto do seu potencial.

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