Depois que o IPCA surpreendeu com uma alta de 1,22% em fevereiro, acima das expectativas, analistas do mercado financeiro revisaram todas as projeções para a inflação deste e do próximo ano. A piora foi generalizada, mas acabou mais concentrada nos índices de curto prazo. Ao mesmo tempo, os analistas aumentaram a estimativa de retração da economia do país, que deve ser de 0,66%. A derrocada se deu em função do setor industrial, que deve amargar forte contração este ano.
Pelos dados do Relatório de Mercado Focus, divulgado nesta segunda-feira (9) pelo Banco Central, o ponto central das previsões para o IPCA deste ano subiu para 7,77% – foi a 10.ª alta seguida. A elite desses profissionais, formada pelos economistas que mais acertam as projeções (Top 5), já conta com uma taxa bem próxima a 8%, em 7,97% em 2015. Com isso, fica cada vez mais distante a possibilidade de o BC entregar a inflação dentro do limite máximo de 6,5%.
Com a nova rodada de previsões, a inflação deve ficar acima de 1% pelo terceiro mês consecutivo. Segundo o documento, o ponto central das estimativas passou de 0,95% para 1,14%. Se o consenso for confirmado, apenas no primeiro trimestre do ano, o IPCA vai chegar a 3,64% no acumulado do primeiro trimestre e atingir 8% no acumulado de 12 meses. Algum refresco para a inflação mensal é aguardado apenas para abril, quando o índice deve ter alta de 0,58%.
Para 2016, o ajuste foi bem pequeno, de 5,50% para 5,51%. O BC trabalha com um cenário de alta para o IPCA nos primeiros meses deste ano, mas conta com um período de declínio mais para frente, levando o indicador a ficar no centro da meta de 4,5% no encerramento de 2016.
Com essa deterioração das previsões para a inflação, o mercado já coloca no radar a possibilidade de a taxa básica de juros, a Selic, se manter elevada por mais tempo. Pelo boletim Focus, o Comitê de Política Monetária (Copom) vai promover uma alta de 0,25 ponto porcentual no mês que vem, para 13% ao ano. Até a semana passada, acreditava-se que esse patamar seria mantido apenas até o final de 2015. Agora, já há uma forte corrente prevendo que essa taxa atravessará também a virada do ano.
A maior causa desse mau humor com a inflação é o conjunto de preços administrados, de acordo com o economista-sênior do Besi, Flávio Serrano. “Não há muito o que fazer”, considerou o profissional, que projeta uma taxa de 1,30% para março. Com isso, no acumulado de 12 meses, o IPCA vai furar a barreira dos 8% no mês que vem. No boletim Focus, os administrados aparecem com uma alta de 11,18% este ano.
PIB
Ainda no documento, piorou também pela décima vez seguida a estimativa principal para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015. A perspectiva de queda de 0,58% foi substituída pela de 0,66%. Isso porque o setor manufatureiro deve apresentar uma retração este ano maior do que os analistas aguardavam até a semana passada. De uma edição para a outra do documento a estimativa praticamente dobrou, passando de -0,72% para -1,38%.