A volta dos juros aos dois dígitos representou um alívio para os investidores da renda fixa, mas, após 20 meses de Selic abaixo de 10%, a indústria de fundos de investimento busca alternativas para se tornar mais competitiva. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mantém conversas com Ministério da Fazenda, Tesouro e Receita Federal para rever a cobrança do come-cotas, o recolhimento compulsório de Imposto de Renda que ocorre duas vezes por ano. Além disso, como contrapartida a uma redução na burocracia em discussão com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a Anbima propõe a criação de uma categoria de fundo de investimento popular para concorrer com a poupança.
Estatísticas da Anbima mostram queda de 0,8% na base de investidores em fundos entre 2011 e 2012. No mesmo período, houve aumento de 10,25% no total de pessoas que aplicam até R$ 500 na poupança.
A ideia é criar uma categoria de fundo de baixo custo, mais focada em canais de autoatendimento e internet. Com risco menor e gasto reduzido, a aplicação poderia oferecer condições mais atraentes para o pequeno investidor. O vice-presidente da Anbima, Carlos Massaru Takahashi, evitou citar o valor mínimo de aplicação, mas brincou: "Quem sabe R$ 1,99?".
Para corintianos
A oferta disponível atualmente para quem tem pouco a investir é limitada. Existem apenas 58 fundos DI e renda fixa abertos com mais de mil cotistas que aceitam aplicação inicial de R$ 500.
Alguns bancos já estão de olho neste público. A Caixa lançou produtos vendidos exclusivamente pela internet. A ideia é reduzir custos, com funcionários e papelada, afirma Édilo Ricardo Valadares, diretor executivo de clientes e estratégia de varejo. Patrocinador de times de futebol, o banco lançou um fundo para torcedores do Corinthians. "É um fundo com investimento de R$ 50, conservador. É uma forma de deixar as pessoas mais familiarizadas com esse tipo de investimento", disse.
O Bradesco também busca atuar nesse segmento e tem três fundos exclusivos de venda pela internet, dois deles com aplicação mínima de R$ 500. Mas para que o projeto de expansão de fundos de investimento populares ganhe corpo, a Anbima busca a aprovação da CVM para uma proposta de redução da burocracia. A documentação do setor inclui hoje regulamento, prospecto, lâmina de informações básicas, envio de extrato e convites para assembleias. Procurada, a CVM informou que a medida está em estudo. Para Massaru, há espaço para rever regras. "Transparência na informação não é quantidade, mas qualidade", disse.