Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
inflação

Ano começa com IPCA de 0,56%

Carnes nobres subiram de preço; cortes de menor valor ficaram mais baratos | Antônio More/ Gazeta do Povo
Carnes nobres subiram de preço; cortes de menor valor ficaram mais baratos (Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo)

No primeiro mês de cálculo com os novos pesos dos produtos e serviços, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro apresentou uma alta de 0,56%, fazendo com que o país já inicie o ano com um crescimento acelerado dos preços.

No acumulado dos últimos 12 meses, o índice caiu para 6,22% – havia fechado o ano passado em 6,50%, exatamente no teto da meta estipulada pelo Banco Central –, o menor resultado desde fevereiro de 2011. Um dos motivos para a queda foi a saída dos números de janeiro de 2011 da conta; naquele mês, o IPCA teve alta de 0,83% e forçava o acumulado para cima.

Os números de janeiro foram puxados em grande escala pelas altas de 0,86% nos preços dos alimentos e de 0,69% nos transportes. Apenas estes dois grupos tinham peso, respectivamente, de 23,12% e 20,54% na nova composição da inflação no mês. Entre os itens que apresentaram as maiores elevações em seus valores estão vegetais (como diversos tipos de feijão) e peixes, além das passagens aéreas, que subiram 10,61% em janeiro. Em relatório divulgado ontem, a consultoria Rosenberg e Associados ressaltou a aceleração no grupo de transportes – que, em dezembro, havia ficado estável.

Mesmo com as altas, o aumento dos preços no mês é considerado normal pelo professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Samy Dana. Segundo ele, o índice apresentou um ritmo alto de crescimento, mas ainda assim típico para o período. "Janeiro é um mês comum de altas, com muitos reajustes nos serviços, o que ocorre, por exemplo, nas matrículas escolares e nas passagens aéreas", afirma Dana.

O relatório da Rosenberg e Associados cita também a alta de 9,2% nos preços dos serviços, no acumulado dos últimos 12 meses. A cifra chama a atenção pelo risco da indexação, que vem sendo apontado por especialistas nos últimos meses. "A preocupação com os serviços continua. Os preços ainda sobem e sem motivos concretos para isso. E claro que o movimento faz lembrar de épocas de grande indexação, com o ciclo de preços pressionando os salários e os salários pressionando os preços", aponta o professor Dana.

Novo cálculoMudança de pesos reflete "revolução" do consumo

Agência O Globo

A nova fórmula de cálculo da inflação, que começou a ser aplicada no mês passado, mostrou que a estrutura de consumo das famílias brasileiras passa por uma revolução. Com a ascensão de 48,7 milhões à classe média na última década, a população gasta agora fatia maior da renda com bens de consumo e transportes, e menos com alimentação e educação. No bojo dessa inclusão econômica, o Brasil estaria vivendo, segundo analistas, um processo bem mais profundo que a simples ida da nova classe C às compras. Segundo o antropólogo Everardo Rocha, da PUC-Rio, há sinais do que ele chama de "globalização do consumo".

Se a sardinha perdeu seu posto para o salmão na dieta nacional, não é só porque este peixe representa um status social mais elevado, mas, sobretudo, porque o salmão é um prato global. O hábito de comê-lo é retratado em filmes dos mais variados países. "Isso vem desde o surgimento da tevê, mas chegamos ao auge da influência com a internet", descreve.

Mas a mudança não abarca apenas o que comemos. Segundo Rocha, o aumento do peso das passagens aéreas é prova disso, já que o costume de voar é um dos hábitos mais representativos dessa nova era global. "A verdade é que o Brasil se tornou um país moderno, e isso acarreta mudanças. Estamos cada vez mais globalizados e deixamos de ser indivíduos para nos tornarmos integrantes de uma rede", corrobora Marcelo Angeletti, professor da ESPM.

Angeletti ressalta que os indícios dessa globalização estão presentes em países onde está havendo ascensão social e onde não há isso. Um exemplo é o consumo de eletrônicos, cujo peso subiu de 1,38% para 2,01% no IPCA, e que também cresce em nações onde a pobreza resiste. São esses produtos que mantêm as pessoas conectadas à rede.

A reponderação do IPCA, medido pelo IBGE, levou em conta a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009. Até então, refletia a POF de 2002/2003. A grande surpresa foi a redução do peso da educação nas famílias. Marcelo Medeiros, pesquisador da UnB, diz que os colégios particulares não vão resolver o problema de educação no Brasil, já que 90% dos jovens estudam em colégios públicos. "Em qualquer avaliação séria, é preciso olhar o ensino público", afirma, acrescentando que não se pode tutelar o consumo. "Eu acho ótimo que tenha celular, televisão em casa, é culturalmente bom. É positivo", avalia.

Mas o investimento em educação da nova classe média existe. Amanda Miranda, 16 anos, foi a primeira da sua casa, que tem renda de cerca de R$ 2 mil, a sair do país. Em julho, Amanda passou duas semanas estudando inglês em Bournemouth, a 160 quilômetros de Londres.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.