Carnes nobres subiram de preço; cortes de menor valor ficaram mais baratos| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Curitiba já não tem o maior índice acumulado

Com um crescimento de 0,36% em janeiro, a alta dos preços medidos em Curitiba e Região Metropolitana fez com que a cidade deixasse o posto de maior inflação acumulada em 12 meses. A capital havia fechado 2011 com o maior IPCA em todo o país, somando 7,13% no ano. Agora, com 6,63% no acumulado dos últimos 12 meses, a cidade foi ultrapassada por Rio de Janeiro (6,76%) e Brasília (7,26%).

Na capital paranaense, o grupo que mais subiu em janeiro foi o da habitação, com alta de 0,87% no período, puxado pelas taxas de aluguel e de mão de obra. No entanto, alimentação (que subiu 0,75%) e transportes (0,02%) foram os grupos que tiveram os maiores pesos na composição da inflação no mês – 22,25% e 22,17%, respectivamente.

Produtos destes dois grupos lideraram a lista de altas do período em Curitiba. Entre eles ficou a sardinha (com 9,19% de alta) e o feijão preto (8,6%). As carnes tiveram um destaque à parte. En­­quanto cortes mais caros, como o filé mignon e o contrafilé, tiveram boas altas (6,42% e 3,33%, respectivamente), partes de menor valor, como o acém e o músculo, apresentaram retração (de 2,59% e 0,15%).

Assim como no cenário nacional, Curitiba também viu as passagens aéreas seguirem na lista das maiores altas. Apenas no primeiro mês do ano, seus preços subiram 8,63% – o item teve a maior influência na conta da inflação dos transportes na cidade.

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No primeiro mês de cálculo com os novos pesos dos produtos e serviços, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro apresentou uma alta de 0,56%, fazendo com que o país já inicie o ano com um crescimento acelerado dos preços.

INFOGRÁFICOS: Veja a lista dos produtos que mais subiram de preço em Curitiba

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APLICATIVO: Calcule sua inflação

No acumulado dos últimos 12 meses, o índice caiu para 6,22% – havia fechado o ano passado em 6,50%, exatamente no teto da meta estipulada pelo Banco Central –, o menor resultado desde fevereiro de 2011. Um dos motivos para a queda foi a saída dos números de janeiro de 2011 da conta; naquele mês, o IPCA teve alta de 0,83% e forçava o acumulado para cima.

Os números de janeiro foram puxados em grande escala pelas altas de 0,86% nos preços dos alimentos e de 0,69% nos transportes. Apenas estes dois grupos tinham peso, respectivamente, de 23,12% e 20,54% na nova composição da inflação no mês. Entre os itens que apresentaram as maiores elevações em seus valores estão vegetais (como diversos tipos de feijão) e peixes, além das passagens aéreas, que subiram 10,61% em janeiro. Em relatório divulgado ontem, a consultoria Rosenberg e Associados ressaltou a aceleração no grupo de transportes – que, em dezembro, havia ficado estável.

Mesmo com as altas, o aumento dos preços no mês é considerado normal pelo professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Samy Dana. Segundo ele, o índice apresentou um ritmo alto de crescimento, mas ainda assim típico para o período. "Janeiro é um mês comum de altas, com muitos reajustes nos serviços, o que ocorre, por exemplo, nas matrículas escolares e nas passagens aéreas", afirma Dana.

O relatório da Rosenberg e Associados cita também a alta de 9,2% nos preços dos serviços, no acumulado dos últimos 12 meses. A cifra chama a atenção pelo risco da indexação, que vem sendo apontado por especialistas nos últimos meses. "A preocupação com os serviços continua. Os preços ainda sobem e sem motivos concretos para isso. E claro que o movimento faz lembrar de épocas de grande indexação, com o ciclo de preços pressionando os salários e os salários pressionando os preços", aponta o professor Dana.

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Novo cálculoMudança de pesos reflete "revolução" do consumo

Agência O Globo

A nova fórmula de cálculo da inflação, que começou a ser aplicada no mês passado, mostrou que a estrutura de consumo das famílias brasileiras passa por uma revolução. Com a ascensão de 48,7 milhões à classe média na última década, a população gasta agora fatia maior da renda com bens de consumo e transportes, e menos com alimentação e educação. No bojo dessa inclusão econômica, o Brasil estaria vivendo, segundo analistas, um processo bem mais profundo que a simples ida da nova classe C às compras. Segundo o antropólogo Everardo Rocha, da PUC-Rio, há sinais do que ele chama de "globalização do consumo".

Se a sardinha perdeu seu posto para o salmão na dieta nacional, não é só porque este peixe representa um status social mais elevado, mas, sobretudo, porque o salmão é um prato global. O hábito de comê-lo é retratado em filmes dos mais variados países. "Isso vem desde o surgimento da tevê, mas chegamos ao auge da influência com a internet", descreve.

Mas a mudança não abarca apenas o que comemos. Segundo Rocha, o aumento do peso das passagens aéreas é prova disso, já que o costume de voar é um dos hábitos mais representativos dessa nova era global. "A verdade é que o Brasil se tornou um país moderno, e isso acarreta mudanças. Estamos cada vez mais globalizados e deixamos de ser indivíduos para nos tornarmos integrantes de uma rede", corrobora Marcelo Angeletti, professor da ESPM.

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Angeletti ressalta que os indícios dessa globalização estão presentes em países onde está havendo ascensão social e onde não há isso. Um exemplo é o consumo de eletrônicos, cujo peso subiu de 1,38% para 2,01% no IPCA, e que também cresce em nações onde a pobreza resiste. São esses produtos que mantêm as pessoas conectadas à rede.

A reponderação do IPCA, medido pelo IBGE, levou em conta a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009. Até então, refletia a POF de 2002/2003. A grande surpresa foi a redução do peso da educação nas famílias. Marcelo Medeiros, pesquisador da UnB, diz que os colégios particulares não vão resolver o problema de educação no Brasil, já que 90% dos jovens estudam em colégios públicos. "Em qualquer avaliação séria, é preciso olhar o ensino público", afirma, acrescentando que não se pode tutelar o consumo. "Eu acho ótimo que tenha celular, televisão em casa, é culturalmente bom. É positivo", avalia.

Mas o investimento em educação da nova classe média existe. Amanda Miranda, 16 anos, foi a primeira da sua casa, que tem renda de cerca de R$ 2 mil, a sair do país. Em julho, Amanda passou duas semanas estudando inglês em Bournemouth, a 160 quilômetros de Londres.

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