O ano de 2016 começou para a indústria automobilística da mesma forma que 2015 terminou: com queda nas vendas, suspensão de contratos de trabalho (lay-offs) e demissões. Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que as vendas do segmento de automóveis e comerciais leves recuaram 32,15% em janeiro em relação ao mês anterior. Foram emplacadas 149.699 unidades, contra 220.640 em dezembro de 2015. Se comparado a janeiro do ano passado, o resultado aponta retração de 38,62%.
Em relação ao emprego, as notícias não são boas. A fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo vai suspender os contratos de trabalho de mais 800 funcionários, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Eles entrarão em férias coletivas no dia 15, por 20 dias, e depois ficam em lay-off por cinco meses. Com mais este grupo, o total de empregados com o contrato de trabalho suspenso na Volks do ABC chega a 2 mil, o equivalente a 10% do quadro de funcionários. Procurada, a montadora não se pronunciou.
Também em São Bernardo, a fabricante de caminhões e chassis para ônibus Mercedes-Benz vai colocar em licença remunerada 1.500 trabalhadores de sua linha de produção a partir do dia 17, o equivalente a 21,7% dos 7.000 funcionários que trabalham no chão de fábrica. A licença vai até maio, quando será reavaliada. Em janeiro, a queda nas vendas de caminhões foi de 43,36% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo a Fenabrave. A venda de ônibus encolheu no mesmo ritmo — 43,79% — em relação a janeiro de 2015. A montadora confirma o número de licenças e atribui a medida ao fraco desempenho do segmento em janeiro.
Este ano, a General Motors foi a primeira a fazer dispensas. Por telegrama, a montadora comunicou o desligamento a 517 funcionários que estavam em lay-off na unidade da montadora de São José dos Campos, interior de São Paulo. Desde 2013, quando a crise econômica começou a se aprofundar e o governo suspendeu os incentivos ao setor (a redução do IPI terminou em dezembro de 2014), 27,1 mil trabalhadores das montadoras perderam o emprego, sem incluir nesta conta as fábricas de autopeças. Só no ano passado, 1.047 concessionárias fecharam, e 32 mil trabalhadores foram demitidos.
Tanto a Volks quanto a Mercedes aderiram, no ano passado, ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE), uma medida criada pelo governo para evitar mais demissões no setor. No PPE, os salários são reduzidos em 10%, e a jornada mensal, em um dia por semana. Além disso, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) banca o percentual cortado dos rendimento enquanto o segmento enfrenta queda de vendas.
“O PPE é um alívio de custos para as montadoras em momentos de crise. Mas, se o ritmo de vendas não for retomado, certamente parte dos trabalhadores beneficiados pela medida acabará sendo cortada”, explica o economista João Morais, da consultoria Tendências, que estima que as vendas seguirão em retração, com queda de 17% em 2016.
Para Alarico Assumpção Júnior, presidente da Fenabrave, o ano começou sem expectativa de crescimento nas vendas, mas os resultados de janeiro não devem ser balizadores para as projeções para 2016.
“Estimamos queda de 5,2% nas vendas este ano, mas faremos revisões periódicas a cada três meses”, diz ele, lembrando que janeiro é um mês mais fraco por causa das despesas extras das famílias, com impostos, matrículas e material escolar.
Assumpção avalia que o pior momento do setor foi vivido em 2015, quando as vendas encolheram 26,5%.
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