Opinião
Caminho longo e difícil devia ter sido valorizado
Guido Orgis, editor executivo de Economia.
Após a estabilização da economia, em 1994, o Brasil demorou 14 anos para ter sua avaliação de risco de crédito elevada para o grau de investimento. No processo, ganhamos a Lei de Responsabilidade Fiscal, nos tornamos credores em moeda estrangeira, sobrevivemos a quatro grandes crises externas (México, Ásia, Rússia, Argentina), a uma crise cambial aguda (em 1999), a um racionamento de energia, a escândalos de corrupção e uma transição de partidos no poder. Veja como era arriscado investir no Brasil, sempre sujeito a turbulências.
E mesmo assim a construção da política fiscal foi capaz de elevar o país à lista daqueles onde há segurança para se investir. O caminho foi tão longo e difícil que deveria ser mais valorizado pelo governo. A redução de um ponto na nota de crédito neste momento não vai afetar a vida de ninguém, não tem repercussão na economia real. É, antes disso, a confirmação do que vem sendo dito por muita gente que acompanha a política fiscal brasileira: não adianta maquiar os números. Como fez o governo quando montou uma manobra contábil para socorrer o setor elétrico. O termo crédito tem a ver com a confiança depositada em alguém. A nota mais baixa do país reforça que temos razões para desconfiar.
A diretora de ratings soberanos da Standard & Poors (S&P), Lisa Schineller, não espera ver reformas e melhora fiscal neste ano eleitoral no Brasil. Para ela, o país tem menos espaço para manobra em caso de choque do que tinha no passado. A deterioração fiscal, o baixo crescimento econômico e a piora das contas externas são as justificativas da S&P para o rebaixamento da nota de crédito brasileira anunciada na última segunda-feira, de BBB para BBB-. "Não veremos reformas em um ano de eleição", afirmou Lisa. Ela também avalia que não será fácil para o Brasil cumprir a meta de superávit primário de 1,9% do PIB estabelecida pelo governo para este ano. Lisa considera a meta "desafiadora".
A diretora disse que a decisão de rebaixar a nota de crédito não estava tomada antes de a equipe da S&P chegar ao Brasil. O time de Lisa esteve no país há duas semanas para diversas reuniões com economistas do setor privado e autoridades do governo. Alguns especialistas acreditavam que a decisão sobre o rating poderia demorar um pouco mais, para considerar o desempenho fiscal do governo nos próximos meses.
Segundo ela, a visita ao Brasil teve o objetivo de coletar informações para traçar um amplo panorama da economia nacional. Como conclusão, ficou a visão de que não havia perspectiva de melhora da situação fiscal, além da expectativa de crescimento econômico mais fraco. "Foi uma decisão coletiva", afirmou. Segundo Lisa, o fato de a perspectiva do rating do Brasil ser agora estável sinaliza que outro rebaixamento da nota de crédito do país não está no horizonte. "Não estamos dizendo que o Brasil tem risco de perder o grau de investimento."
Lisa reconheceu que após as eleições presidenciais alguns sinais sobre os rumos da economia poderiam ficar mais claros, porém a piora fiscal fez com que a agência não esperasse pelo processo eleitoral.
Solidez
Lisa explicou que a perspectiva ficou estável após o rebaixamento da nota de crédito de BBB para BBB-, em razão da composição ainda sólida da dívida brasileira. Ela citou ainda que, apesar da deterioração fiscal, a política monetária do Brasil tem conseguido manter a inflação dentro da meta, que é de 4,5%, com tolerância de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo.
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Folhapress
O Banco Central afirmou ontem que, apesar do rebaixamento da nota de crédito do Brasil, o país "tem respondido e continuará respondendo de forma clássica e robusta aos desafios" no novo quadro internacional. Segundo a instituição, essa resposta combina austeridade na condução da política macroeconômica, flexibilidade cambial e uso de colchões de proteção (como reservas em dólar).
De acordo com a instituição, o Brasil encontra-se bem posicionado nesta nova fase de normalização das condições financeiras globais e tem plena capacidade de atravessá-la com segurança. "O país vem recebendo fluxos de capitais nos últimos meses que refletem em grande parte as políticas em curso. A qualidade das políticas em vigor deve manter o país bem preparado para o novo cenário internacional."
A injeção de dinheiro nos bancos públicos, como o BNDES, foi apontada pela agência Standard & Poors como uma das motivações para o corte na nota. Ontem, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, reafirmou que os aportes ao banco serão menores este ano, "em sintonia com a política fiscal", de forma a não pressionar as contas públicas. "Eu respeito a classificadora que reduziu, mas tenho confiança na firmeza da política fiscal brasileira."
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