São Paulo - Fazer um longa metragem não é tarefa fácil. Lançar o filme no circuito, então, é para poucos. Aos 20 anos, o brasiliense Matheus Souza, conseguiu os dois feitos.
Nerd assumido, ele mora no Rio de Janeiro e cursa o último ano da faculdade de cinema. Decidido, conta que "nunca tinha feito nem vídeo para o YouTube. Queria fazer cinema, queria ver meu filme na sala escura".
O resultado foi Apenas o Fim, estralado por Gregorio Duvivier e Erika Mader ela, sobrinha da estrela Malu Mader. O filme estreou em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília na véspera do Dia dos Namorados (e, dependendo do sucesso, pode ir para outras praças), e nele Matheus escolheu falar da sua geração, "criada pela TV a cabo e educada pela internet". Foi na rede que ele encontrou uma aliada para divulgar a película e foi na rede que ele fez várias ações para fazer o filme acontecer.
O protagonista de Apenas o Fim, Tom, tem um blog (www apenasoblog.wordpress.com), em que escreve sobre seus problemas e pede conselhos para superar uma crise no relacionamento. A conclusão dessa história é contada depois: o que acontece no blog é uma prévia do filme, pura transmídia.
Quer dizer, qualquer um pode assistir ao filme e entendê-lo, mas para saber mais sobre o personagem, e o que aconteceu antes do longa, só lendo o blog. Os posts são escritos pelo próprio Matheus. Em um deles, escreve: "Ninguém me aguenta mais falando sobre isso (a tal crise no namoro). Até minha terapeuta muda de assunto e pergunta sobre minha mãe. Este blog foi o que me restou".
Recheada de referências pop, como Cavaleiros do Zodíaco e Transformers, e cinematográficas, como Godard e Bergman, a comédia romântica ("feita em esquema de guerrilha, todo mundo ajudou", explica o diretor) foi realizada com equipamento digital dentro da faculdade em que ele estuda. Essa foi uma das limitações impostas pela universidade e diga-se de passagem, bem contornada pelo diretor estreante para emprestar seus equipamentos.
Rifa
Feita com o dinheiro de uma rifa de uísque durante as férias escolares, a modesta produção venceu o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo (os dois maiores festivais de cinema do País), como melhor filme pelo voto popular. Matheus aposta em diálogos ora leves, ora intensos, e longos planos-sequência para contar a última hora que esse jovem casal passou junto. A referência mais clara está nos ótimos Antes do Amanhecer (1995) e sua continuação Antes do Pôr-do-Sol (2004), de Richard Linklater. Matheus confirma a fonte, mas diz que seu cineasta preferido é Woody Allen.
A paixão pelo cinema, entretanto, veio bem antes dele conhecer o diretor nova-iorquino. "A Bela e a Fera (da Disney) foi o primeiro filme que eu vi no cinema, quando tinha uns três anos, e saquei na hora que era aquilo que eu queria fazer." Ele pode até não ter enveredado pelo caminho da animação, mas é nos desenhos em computação gráfica da Pixar que ele acredita que o melhor e mais apaixonado cinema está sendo feito hoje em Hollywood. "Ratatouille e Wall-E são obras primas da história do cinema. São, pra mim, quase Chaplin."
Fã de games, ele têm andado sem tempo para gastar com seus PSP e PS3. De qualquer forma, já planeja próximos trabalhos Até já filmou um: Por Enquanto, seu projeto de conclusão de curso.
Para quem vê nele um prodígio, ele é o primeiro a desfazer o mau entendido: "Sou só um cara de 20 anos, que fez um filme". É, Apenas o Fim tem tudo para ser apenas o começo de Matheus.