O ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Luiz Eduardo Barata, criticou a atual gestão do órgão pela demora em esclarecer a origem e as causas do apagão que deixou 25 estados e o Distrito Federal sem luz nesta terça (15). A expectativa é de que um relatório detalhado seja divulgado até quinta (17) segundo o atual diretor, Luiz Carlos Ciocchi.
A transmissão de energia elétrica demorou seis horas para ser completamente restabelecida e afetou entre 27 e 29 milhões de pessoas em todo o país, de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME).
Barata ressaltou que os órgãos reguladores normalmente conseguem identificar a fonte de um problema imediatamente após a sua ocorrência. Ele classificou como “surpreendente” e “inacreditável” que o dia tenha terminado sem que o Brasil saiba onde e como o apagão teve início.
De acordo com ele, não é provável que uma contingência simples, como a desconexão de uma única linha, seja a causa do apagão. Distúrbios de grande escala geralmente resultam da convergência de diversos fatores, mas ainda não foi possível determinar quais foram esses fatores.
“Um distúrbio dessa magnitude costuma ocorrer quando há simultaneidade de eventos. Quais foram ainda não disseram, e isso é inacreditável”, disse em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta quarta (16).
Eduardo Barata destacou que, após dez horas do apagão, o ONS ainda não havia compartilhado informações detalhadas sobre o ocorrido dada a tecnologia disponível capaz de identificar as linhas problemáticas. Ele considerou decepcionante a falta de esclarecimentos após a entrevista do ministro Alexandre Silveira.
“Concordamos que a situação energética do país é excepcional e não há qualquer tipo de risco no abastecimento. Mas os registradores mostram onde ocorre esse tipo de evento”, afirmou.
Registradores são dispositivos no sistema elétrico que rastreiam e identificam oscilações na rede. Com base em sua experiência no ONS, Barata afirmou que é incomum não saber a origem de um distúrbio dessa magnitude até um ponto tão avançado do processo.
Em grandes incidentes, diz, é costumeiro conhecer o local e as causas imediatamente. “Depois, óbvio, você vai ver o que aconteceu a mais, mas a causa você sabe imediatamente. Digo isso sem medo da errar”, completou.
Ainda segundo o ex-diretor-geral do ONS, não é possível fazer qualquer correlação entre a privatização da Eletrobras e sua possível influência na análise técnica do sistema, Para exemplificar, Barata relembrou o apagão de 2009, quando estava no comando da Operação do ONS.
Na ocasião, mesmo com mais de dez horas de trabalho para recompor o sistema, os técnicos rapidamente identificaram que o problema se originava em três linhas de Itaipu. “Na mesma hora que aconteceu, a gente sabia que o problema era em três linhas de Itaipu. Não consigo explicar o que estamos vendo hoje. Só posso dizer que estou triste”, finalizou.
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