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O Ministério de Minas e Energia vai solicitar à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e ao Ministério da Justiça, por intermédio da Polícia Federal, que investiguem as causas que levaram ao apagão desta terça (15).
A justificativa do ministro Alexandre Silveira é de que o setor é extremamente estratégico e sensível. Ele também não descartou a possibilidade de dolo no evento que atingiu quase todas as unidades da federação, tomando por exemplo ataques às linhas de transmissão realizadas no início do ano.
Segundo Silveira, o sistema energético brasileiro é extremamente robusto e opera em redundância. “Seriam necessários pelo menos dois eventos concomitantes para que houvesse um problema desses”, disse.
Um deles, supostamente, teria ocorrido em uma linha de transmissão no Ceará. Porém, ele não deu maiores detalhes sobre qual teria sido o problema e onde teria ocorrido.
A falha na linha de transmissão no Ceará é mais uma hipótese a ser levantada como causadora do apagão. Ao longo do dia, surgiram outras teses: uma delas seria, segundo o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, um problema numa subestação de energia em Imperatriz (MA).
Outra apurada por “O Globo” junto a fontes da ONS é de que teria havido uma falha em uma subestação de Anapu (PA), a 20 quilômetros da hidrelétrica de Belo Monte. Uma terceira possibilidade, levantada por fontes citadas pelo “Valor” é de que cinco turbinas da usina Santo Antônio (RO) tenham saído do sistema simultaneamente.
O problema aconteceu em meio a um cenário de reservatórios cheios, economia freando e longe dos picos de consumo.
Robustez do sistema elétrico é questionada
A robustez do sistema é questionada por especialistas. “Pode haver fragilidades locais”, diz o consultor independente Rafael Herzberg. Ele cita o episódio do apagão no Amapá, em novembro de 2020, que deixou quase 800 mil pessoas sem energia durante 22 dias.
Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram que a robustez da rede básica de energia do Brasil – isto é, a capacidade de suportar contingências sem interrupção no fornecimento caiu neste ano ao menor nível desde 2016. Das 1.625 perturbações no Sistema Interligado Nacional (SIN), 123 (7,5%) resultaram em interrupção no fornecimento.
Críticas à privatização da Eletrobras
Silveira também aproveitou a oportunidade para criticar a privatização da Eletrobras, realizada em 2022. “Trata-se de uma empresa estratégica que deve ter sinergia com o poder público.”
O ministro disse que com a transferência da estatal para a iniciativa privada perdeu-se o braço operacional do governo no setor elétrico. E a privatização teria gerado instabilidade no setor elétrico, com os brasileiros perdendo nesse processo. “Ela tirou a possibilidade de um sistema harmônico na área elétrica”.