São Paulo - Mais da metade dos empreendedores brasileiros utilizam recursos próprios ou de sua família na hora de abrir um negócio, informa a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) referente ao ano de 2008, divulgada ontem. Em contrapartida, apenas 3% dos empreendedores recorreram ao sistema de crédito oficial no ano passado para abrirem seus negócios. O porcentual dos empresários de pequeno porte que recorreram em 2008 ao sistema financeiro é inferior ao registrado em 2007, que ficou em 9%.
O Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), responsável pela execução da pesquisa no Brasil, informou que não detalhou outros dados, devido aos critérios internacionais adotados para a elaboração da pesquisa, que é realizada em 43 países. Em 2007, por exemplo, a pesquisa revelou que 62% recorreram a familiares próximos para obter os recursos, enquanto 14% conseguiram os recursos com outros parentes, 3% com colegas de trabalho, 2% com estranhos, 6% com amigos ou vizinhos, 9% através de bancos, 1% com programas governamentais, e 8% junto a outras fontes.
Os resultados obtidos na pesquisa deste ano ilustram a dificuldade de acesso ao crédito entre a população. Segundo Marcelo Neri, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o acesso da população ao mercado consumidor e ao mercado de crédito, assim como uma melhora na educação, são fundamentais para o desenvolvimento social do país.
Investimento
A pesquisa também mostrou que o montante necessário para iniciar um empreendimento aumentou sensivelmente em 2008. O valor médio registrado no ano passado foi de R$ 29 mil, ante R$ 11 mil em 2007. O resultado representa praticamente o dobro da média registrada entre os anos de 2002 e 2007, que foi de R$ 14,8 mil.
Para Neri, o pouco uso que os empreendedores brasileiros fazem do sistema oficial de crédito é um dado negativo, mas que pode representar uma vantagem comparativa para o país durante a crise financeira internacional atual, que afetou fortemente o mercado de crédito. "O brasileiro aprendeu a se virar sem crédito", afirmou. Segundo ele, a redução da disponibilidade de financiamento não afetará tanto os empreendedores brasileiros quanto o de outros países, onde o acesso ao crédito sempre foi mais disseminado.