A renda da supersafra de soja e milho desse ano não foi suficiente para fazer deslanchar as vendas do comércio nas principais cidades do interior. Em Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu o varejo vem registrando taxas de crescimento mais fracas que as do ano passado e inferiores às da média do estado.
Os dados são de um levantamento da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio), que apura o faturamento de cerca de 1,3 mil estabelecimentos no estado.
Em todo o Paraná, o comércio registrou, no primeiro quadrimestre, vendas reais (já descontada a inflação) 7,56% superiores às do mesmo período de 2012. Mas, com exceção de Ponta Grossa e Curitiba, as demais cidades pesquisadas tiveram crescimento abaixo dessa média.
Em anos de boa safra e preços altos, tradicionalmente a renda do campo e do agronegócio ajuda a movimentar o comércio regional no início do ano. "Era de se esperar, em 2013, um desempenho melhor do interior", diz Vamberto Santana, consultor econômico da Fecomércio.
Segundo o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento, Francisco Carlos Simioni, 75% da safra de soja e da primeira safra de milho já foram vendidas, o que significa que essa renda já está no bolso do produtor rural.
A safra de soja deste ano foi recorde e deve ficar em 15,8 milhões de toneladas, 46% superior à do ano passado. As duas safras de milho devem totalizar 18 milhões de toneladas, com alta de 7,8%. "Os preços vêm se sustentando em patamares elevados há pelo menos dois anos, o produtor está capitalizado, mas os insumos subiram e o capital de giro está rodando em prazos mais curtos", diz Simioni.
Segundo ele, ao que tudo indica os produtores estão mais conservadores na hora de consumir, privilegiando os gastos ligados ao negócio, como a compra de implementos agrícolas e uso de novas tecnologias no campo. Parte da renda do campo está sendo direcionada para o investimento, principalmente no mercado imobiliário.
Para o economista Julio Suzuki, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o comportamento do comércio nas cidades do interior segue o que vem sendo constatado em todo o país, em que o consumo, principalmente de bens duráveis, se aproxima do limite. Inflação alta e endividamento também comprometem as compras. "O modelo baseado no consumo não é muito longevo também no interior", diz.
Renda mais alta garante consumo em Curitiba
Na contramão do interior, o vigor de consumo de Curitiba fez com que a capital do estado registrasse uma alta real de 8,86% nas vendas até abril, recuperando-se da queda de 3,53% apurada no mesmo quadrimestre do ano passado.
Para Vamberto Santana, consultor econômico da Fecomércio, o desempenho acima da média do estado pode ser explicado por três fatores. O primeiro é que a capital concentra as atividades de administração pública, que paga maiores salários. Em segundo lugar, o grande número de indústrias, que também paga maiores remunerações. E, em terceiro, o grande volume de entregas de imóveis na região nesse ano. Com a casa nova pronta, o consumidor tem se dedicado a adquirir móveis e artigos de decoração.
A baixa taxa de desemprego, em 3,9%, e a maior participação da classe B na população também ajudam a sustentar as vendas no varejo. Curitiba tem um potencial de consumo de R$ 43,2 bilhões em 2013, segundo um estudo da consultoria IPC Marketing. A cidade está em sexto lugar no ranking nacional. Do total de consumo, a classe B responderá por 57%.
Fronteiras
Compras em países vizinhos esvaziam comércio de Foz
Daniela Valiente, da sucursal
Em Foz do Iguaçu, a principal dor de cabeça dos comerciantes é o número cada vez maior de consumidores e turistas que vão comprar nos países vizinhos, em busca de preços mais baixos. Em supermercados, free shops e restaurantes de Puerto Iguazu, a economia nas compras pode chegar a 40%. No caso da gasolina argentina, por exemplo, a diferença média de preços é de R$ 0,89 por litro, chegando a quase 29% no valor pago.
Isso ajuda a explicar por que alguns setores vêm registrando queda mais acentuada nas vendas. Segundo dados da Fecomércio, de janeiro a abril as vendas de autopeças caíram 10,08%, as de eletroeletrônicos recuaram 6,9%, de roupas, 22% e de combustíveis e lubrificantes, 4,18% na comparação com o mesmo período do ano passado. "Aqui a gente percebe dia a dia a diminuição do fluxo de pessoas. Tem a ver o movimento na ponte, e o movimento de outras cidades que também está diminuindo. Quem mora perto, nas cidades menores, começou a ficar, a fazer compras na sua própria cidade, e não vem mais para cá", diz Salete Verlan Lichtnow, gerente de loja de roupas e calçados femininos Lattigos.
O comerciante Issa Hassan, proprietário de uma loja de tecidos, diz que o movimento está fraco desde o início do ano. "Está faltando dinheiro, e isso afasta o consumidor do comércio. O que tenho feito é cobrir compromisso para pagar as despesas". Ele já teve seis funcionários; hoje, apenas um. "Aceito pagamento em outras moedas, mas, mesmo assim, não entra mais nem peso, guarani ou dólar", diz.
Segundo José Matiuc, proprietário de loja de roupa para bebês Adrivar e presidente da Associação de Lojistas da Avenida Brasil, o comércio sofre influência das cidades do entorno. O fluxo de consumidores de países vizinhos também caiu, diz. "O argentino vem, mas não compra como antes, assustados com a desvalorização do peso. Os paraguaios também gastam menos."