A unidade da Techint em Pontal do Paraná, responsável por construir plataformas para exploração de petróleo, vive um paradoxo. Ao mesmo tempo em que vai entregar seu maior projeto neste ano – resultado de um contrato de US$ 889 milhões com a Petrobrás –, convive com os esqueletos do calote de R$ 200 milhões da OSX, de Eike Batista, e tem o seu futuro indefinido devido a mudanças nas regras de contratação do setor petroleiro.
GALERIA: veja imagens da Techint em Pontal do Paraná
A Techint está instalada na entrada da Baía de Paranaguá, na Ponta do Poço, em Pontal do Paraná, município do litoral paranaense com 25 mil habitantes. O terreno em meio à Mata Atlântica foi comprado em 1981 e, durante aquela década, a empresa deu início a sua operação ao construir a sua primeira plataforma de exploração de petróleo para a Petrobras. Depois, ficou cerca de quinze anos parada, sem nenhum contrato em vigor, até a retomada dos trabalhos em 2004, para a construção da PRA-1, no valor de R$ 276 milhões.
O montante passa longe das dimensões da P-76, plataforma que está sendo construída neste momento para a Petrobras. O contrato foi assinado há quatro anos por US$ 889 milhões e é o maior já feito na unidade paranaense da multinacional de origem italiana. São 2,5 mil pessoas trabalhando no local, número que chegou a quase 4 mil em 2016. A previsão – e tudo caminha dentro do prazo – é entregar a demanda até o fim deste ano.
INFOGRÁFICO: veja detalhes do projeto da plataforma P-76
O P-76 é um navio cargueiro velho que foi transformado para ser uma plataforma de exploração de petróleo em área de pré-sal. Módulos metálicos são instalados na parte superior do navio com a função de fazer a separação do petróleo tirado do fundo do mar do óleo, gás, água e demais resíduos que vem junto. A capacidade de armazenamento do navio é de 1,4 milhão de barris de petróleo. Depois de entregue, ele será posicionado na Bacia de Campos, região da costa litorânea do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Faixa de Infraestrutura
O governo do Paraná quer construir uma faixa de infraestrutura para alavancar a área portuária de Pontal do Paraná, localizada na Ponta do Poço, na entrada da Baia de Paranaguá. O projeto inclui a construção de uma nova rodovia que ligaria a PR-407 à zona portuária. O objetivo é desafogar a PR-412, hoje única via de acesso à Pontal do Poço. Somente a Techint opera no local e há autorização para a construção de porto privado de contêineres do grupo JCR Participações.
Mas antes do megaprojeto da Petrobras teve o Eike Batista. O empresário, por meio da OSX, contratou a Techint para construir uma plataforma fixas de exploração de petróleo também em área de pré-sal. Quando 60% da estrutura estava pronta, os pagamentos foram interrompidos. O projeto ruiu em 2013, assim com todo o Império X. E mais de duas mil pessoas foram demitidas.
Mudança nas regras do setor petroleiro preocupa Techint
A Techint convive até hoje com dois esqueletos do WHP-2, nome da plataforma da OSX. O prejuízo chega a R$ 200 milhões. Como sucatear o material custa ainda mais dinheiro, os esqueletos continuam abandonados na área do estaleiro. O contraste em meio à paisagem natural do litoral paranaense é visível.
Pelo menos, espaço não falta para abrigar as estruturas. A área da Techint em Pontal tem 200 mil metros quadrados de área útil, o equivalente a 28 campos de futebol. O espaço foi ampliado a partir de 2012 justamente para atender o contrato de Eike Batista e a demanda em área de pré-sal que se desenhava para os próximos anos. Foram investidos R$ 300 milhões e o parque fabril a céu aberto ganhou capacidade para até dois projetos simultâneos e 4 mil funcionários.
Só que a promessa de alta demanda não se confirmou e as mudanças nas regras de licitação do setor petroleiro ameaçam ainda mais o futuro da Techint em Pontal do Paraná. A empresa não tem nenhum contrato assinado para 2018 até o momento e vê com preocupação a retirada da exigência de o setor petroleiro contratar até 75% de matéria-prima, equipamentos e mão de obra nacional. Deve sobrar para os 2,5 mil funcionários atuais, que podem ficar sem emprego enquanto a multinacional define o seu futuro.
Plataforma P-76
Para a plataforma P-76, o maior projeto da Techint já feito em Pontal do Paraná, a empresa construiu 15 módulos de exploração de petróleo. Os módulos são instalados na parte superior do navio e são responsáveis pela separação do petróleo da água, do óleo, do gás e dos demais resíduos. Eles também fazem a compressão do gás, o tratamento de água e geração de energia. Na parte de dentro o navio, fica armazenado o petróleo extraído. O navio é fornecido pela própria Petrobrás. A construção dos módulos aconteceu entre 2014 e 2016 e neste ano as estruturas foram colocadas em cima do navio. Agora, falta somente interligar os módulos para que eles funcionem como uma única unidade. A previsão é terminar o trabalho até o fim deste ano.
Mudança nas regras do setor petroleiro preocupa Techint
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, anunciou na semana passado que o governo vai mudar as exigências feitas nas licitações da indústria de petróleo. A partir de setembro, os contratos poderão ser feitos com apenas 25% de conteúdo local - antes o percentual chega a até 75%, dependendo do caso.
O conteúdo local se referente à quantidade mínima de mão de obra, matéria-prima e insumos que devem ser contratados nacionalmente. Como o percentual era bastante alto, a Petrobras e as demais operadoras contratavam empresas instaladas no Brasil, como a Techint, para fazer o serviço.
Agora, com a mudança na regra, a multinacional de origem italiana prevê a competição dos países asiáticos. “Aqui temos exigências trabalhistas e ambientais que elevam os nossos custos a 20%, 30% do que é cobrado pelos estaleiros asiáticos, isso quando não há dumping. Se baixarem o conteúdo local, eles [exploradores de petróleo] vão preferir comprar [plataformas] da Ásia”, afirma Luis Guilherme de Sá, diretor comercial da Techint.
O governo alega que não existem fornecedores preparados em número suficiente para atender as exigências de conteúdo local. Com isso as empresas que constroem plataformas para exploração de petróleo acabam não cumprindo a meta e importando componentes, o que resulta em multas e encarece o contrato.
O diretor da Techint, porém, rebate a tese do governo. Ele diz que há no país fornecedores e mão de obra em número suficiente e que a regra mais branda vai resultar em perda de empregos, com projetos sendo executados no exterior.
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