As medidas do Banco Central foram consideradas pelo mercado como as "mais fortes" até agora para estancar a queda livre do dólar, mas a maioria dos analistas acredita que elas terão efeito limitado. A tendência de depreciação da moeda americana tende a continuar no longo prazo, até porque se trata de um fenômeno mundial.
"Foi uma medida dura que atinge em cheio o mercado de derivativos, com efeitos imediatos sobre a depreciação do dólar, mas que terá eficácia apenas no curto prazo", afirma Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Consultores Associados. Ele avalia que o BC demorou para tomar uma medida mais agressiva para conter a especulação no mercado de câmbio, e prevê que a atitude de ontem deve "segurar" o dólar até o fim do ano.
Para o professor Luciano Nakabashi, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apesar das mudanças, a pressão de queda do dólar vai permanecer. "A chave para interromper a queda livre do dólar está na redução dos juros. Enquanto os juros não caírem, o dólar vai continuar pressionado", afirma.
Os analistas são céticos em relação aos efeitos da ameaça feita ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que pode, além da restrição anunciada ontem, usar mais um arsenal de medidas para conter a queda na cotação do dólar. Para Bistafa, essa estratégia pode forçar, mais uma vez, um movimento de antecipação do mercado com novas apostas contra o dólar. "O governo já vinha sugerindo que haveria medidas de contenção, e até agora o efeito era inverso", diz.
Proteção mais cara
As medidas cambiais vão ter efeito tanto sobre quem especula, apostando em uma maior desvalorização do dólar, quanto sobre as operações de "hedge"( proteção) das empresas em relação à variação cambial. Com isso, o governo intensifica a regulação sobre derivativos e tenta diminuir a alavancagem, mas afeta empresas exportadoras, importadoras, devedoras em moeda estrangeira e principalmente as multinacionais (veja texto nesta página).
O mercado de derivativos cambiais já foi alvo, em 2008, de especulações por parte de companhias que apostavam contra o dólar. Na época, Sadia e Aracruz tiveram fortes prejuízos com operações de derivativos de câmbio buscando ter lucro com a tendência de valorização do real.
Apesar de o BC sinalizar que o IOF poderá chegar até 25% sobre o valor da operação, Bistafa acredita que esse teto dificilmente será alcançado. "Nesse patamar ele quebraria empresas que fazem hedge para se proteger da variação cambial", diz.