O mercado de trabalho brasileiro vive um paradoxo: o desemprego bate recordes, mas ainda há empresas e setores com dificuldade em encontrar gente para contratar. A fila de desempregados chegou a 12 milhões de pessoas, mas falta capacitação. Um estudo feito recentemente pela empresa global de recursos humanos Manpower com mil empresas no país mostrou que 43% delas tem dificuldade para atrair profissionais qualificados.
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A escassez de mão de obra é mais forte nas funções que exigem nível técnico, principalmente nos cargos ligados à produção, operações e manutenção, de acordo com o levantamento. “Isso já acontece há algum tempo e tem relação direta com o direcionamento do olhar pelos jovens para a formação superior. Há um desinteresse pelos cursos técnicos. O mercado hoje sofre a consequência desse movimento. Principalmente a indústria, que precisa muito desse tipo de formação”, aponta Márcia Almstrom, diretora de RH da Manpower.
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A lista inclui ainda profissionais de apoio aos serviços de escritório (secretárias, recepcionistas e assistentes administrativos); operadores de produção/máquinas; profissionais especializados como carpinteiros, eletricistas e outros; representantes de vendas; executivos; contadores, contabilistas e analistas financeiros; motoristas; engenheiros e profissionais de TI.
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Empregos estarão na indústria, comércio e serviços
Leia a matéria completaNo terceiro trimestre deste ano o desemprego no país chegou a 11,8% da população economicamente ativa, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Somente neste ano, 3 milhões de brasileiros perderam o emprego. Mais gente no mercado procurando uma nova colocação, mas sem se preparar para isto, já que empresas e trabalhadores normalmente se despreocupam com a qualificação quando o mercado vinha em um bom ritmo, como nos últimos anos.
Educação deficiente
Outra pesquisa realizada pelo coordenador do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende, mostra que as dificuldades de contratação decorrem, na maioria das vezes, justamente por gargalos na educação. “O sistema de ensino brasileiro é um dos mais lentos em atualização de currículo que nós conhecemos. O Brasil não está nem entre os 40 principais países do mundo em velocidade de atualização de currículo”, afirma o professor.
Esse apagão de mão de obra acontece, segundo Resende, principalmente em áreas onde há uso de tecnologias mais avançadas como laboratórios de análises clínicas, indústrias de eletroeletrônicos e empresas que necessitam de profissionais formados em cursos novos como nanotecnologia.
Por causa desse cenário, 59% das empresas têm diminuído no nível de exigências para contratação no nível técnico. Essa flexibilização ocorre em relação a experiência, habilidades, necessidade de curso técnico e características pessoais, de acordo com a pesquisa da FDC.
Oportunidade
Na visão da diretora de RH da Manpower, o atual momento do mercado também é uma oportunidade para a profissionalização de quem está procurando emprego. “A formação técnica normalmente é de curtíssimo prazo e não requer grandes períodos de dedicação. Os custos também não são tão altos”, destaca.
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Com um ambiente de negócios cada vez mais complexo, os requisitos para preenchimento das vagas nas empresas mudam muito rápido, situação que agrava ainda mais a busca por mão de obra qualificada. “As competências necessárias para entregar a estratégia de negócios agora não são as mesmas daqui a seis meses ou um ano”, afirma João Lins, sócio da PwC Brasil e líder de People & Change.
Mesmo com o cenário de crise, que deveria arrefecer essa tendência, uma pesquisa da PwC mostrou que 59% dos CEOs brasileiros continuam preocupados com a disponibilidade de profissionais capacitados, já que o tempo de reposição de vagas em diversos setores da economia permanece elevado. “Ou seja, mesmo diante do desemprego, as empresas demoraram para encontrar os profissionais com o perfil que elas precisam”, afirma Lins.
Nessa linha, é justamente a formação de uma força de trabalho educada, qualificada e adaptável considerada como prioridade para 75% dos CEOs. “Isto representa um grande desafio para governos, empresas e sociedade civil, melhorar a qualidade do sistema educacional disponível para todas as idades e segmentos”, destaca.
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