Os segmentos de internet e tecnologia da informação são um dos destaques das fusões e aquisições nos últimos anos. E um tipo de operação que está ganhando destaque é o de varejistas adquirindo startups. Em dezembro, o GPA - dono das marcas Pão de Açúcar e Extra - adquiriu a startup de entregas James Delivery. Quase dez meses depois, o Carrefour adquiriu 49% da fintech Ewally e entra no segmento de contas digitais.
A estratégia de adquirir uma startup pode ser decisiva para o comprador, justamente em um momento em que o varejo está patinando. Nos sete primeiros meses do ano, as vendas cresceram 1,2% em comparação a igual período de 2018, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. "Pode ser uma questão de sobrevivência no futuro", diz Caio Camargo, sócio-diretor da consultoria GS&Up.
Ele aponta que apesar de os movimentos se desenvolverem em várias frentes, eles tem muita coisa em comum:
“As startups têm se mostrado como um caminho mais curto para a otimização de processos ou a redução importante de custos em algumas áreas. Por se tratarem de empresas que nascem com o propósito de resolverem um problema específico, acabam sendo mais eficientes na resolução dessas questões do que empresas de maior porte, ou mesmo os recursos internos das companhias.”
Caio Camargo, sócio-diretor da consultoria GS&Up
Outro aspecto que torna atraente esse tipo de operação é que aumenta a competitividade das empresas e libera recursos para outro tipo de investimentos: “de um lado, adquirir uma startup pode ser mais barato do que investir em pesquisa e desenvolvimento. De outro, o retorno para os acionistas pode ser mais rápido e maior”, diz João Stringhini, professor da ESPM.
“A questão na aquisição está em tomar uma boa solução ou processo para si, ao invés de, uma vez que funcionou para empresa, deixá-lo disponível para mais empresas do mercado, como sua concorrência. Se uma empresa encontra uma solução de logística que realmente resolveu seu problema e a colocou em um patamar diferenciado do mercado, uma aquisição, mesmo que parcial, é uma alternativa para que a solução não caia nas mãos da concorrência”, afirma Camargo.
A melhor posição competitiva, destaca Fabiola Paes, cofundadora da startup Neomode, permite o aperfeiçoamento de processos, melhora a jornada do cliente, contribui para modernizar a empresa e aumenta sua atratividade.
Patrícia Cotti, diretora executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), aponta que, internamente, o movimento promove um choque de cultura. As startups ganham em escalabilidade e são beneficiadas com a profissionalização das grandes e estas, em troca, ganham com a agilidade dos processos típica das startups.”
Mais do que tudo, diz o sócio da GS&Up, aproximar-se de uma startup pode ser a única maneira de se manter perene no negócio. “A expectativa das empresas que buscam a inovação é se manterem competitivas, ao passo que as empresas que não buscarem alguma alternativa nesse sentido, podem se afastar rapidamente da preferência de seus consumidores, e nos casos mais graves, perderem mercado de forma significativa.”