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Pós reforma trabalhista

Aplicativos conectam bares e restaurantes a trabalhadores intermitentes

Fernando Gaudio, criador do My Staff, app lançado em setembro de 2018 como o “Uber dos garçons”. | Divulgação/
Fernando Gaudio, criador do My Staff, app lançado em setembro de 2018 como o “Uber dos garçons”. (Foto: Divulgação/)

Lançados no segundo semestre deste ano, dois aplicativos brasileiros querem revolucionar a forma como bares e restaurantes contratam mão de obra temporária. Embalados pela Reforma Trabalhista de 2017, que formalizou contratos intermitentes, os aplicativos conectam bares e restaurantes com profissionais da área, como garçons, manobristas, seguranças, auxiliares de limpeza, hostess, barmans, cozinheiros e chapeiros. A ideia é que a tecnologia venha suprir situações emergenciais muito comuns no setor de alimentação e eventos.

Ambos funcionam de forma similar à Uber. O Closeer está saindo do forno, ainda em fase de experimentação, e operando somente em São Paulo. O algoritmo seleciona um profissional inscrito na plataforma de acordo com a localização, a disponibilidade na agenda e a função exercida. Este profissional constrói sua reputação no app, recebendo de uma a cinco estrelas a cada job realizado. E ele também avalia o estabelecimento.

O aplicativo, idealizado pelo CEO Walter Vieira, junto com os sócios Fábio Diomelli e Fernando Ferreira, nasceu das dores de um dos sócios. Diomelli, dono de quatro restaurantes em São Paulo, sempre passava por problemas na hora de contratar mão de obra.

Vieira garante que a plataforma oferece segurança tanto para contratantes como para contratados. Isso porque, assim como já acontece no Uber, no 99 POP, ou em cadastros de bancos digitais, todos os profissionais passam por um processo de validação de dados. Além disso, o funcionário tem acesso a um contrato de trabalho intermitente, gerado eletronicamente pelo app, que dá respaldo legal e jurídico para ambas as partes.

Pelos próximos seis meses, o aplicativo será totalmente gratuito para funcionários e estabelecimentos. Após este período, será cobrada uma taxa de 10% de cada job que o profissional executa e os contratantes vão precisar pagar uma mensalidade – o valor ainda não está definido. Vieira adianta, no entanto, que o valor dará acesso a serviços de chaveiros, eletricistas, encanadores, entre outros.

Até o momento, 1.300 profissionais já se cadastraram na plataforma, que está em um período de validação de dois meses, somente na cidade de São Paulo. O objetivo é alcançar dois mil cadastros até o fim do mês e expandir a área de atuação, inicialmente, para Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG) e Florianópolis (SC).

A experiência do My Staff

Lançado em setembro de 2018, o My Staff faz a ponte entre quem quer contratar e quem precisa de trabalho dentro das seguintes categorias: bar, cozinha, garçom, limpeza e hostess.

Neste modelo, o contratante tem a possibilidade de escolher o profissional, a partir dos currículos que lhe são apresentados pelo app, com base em distância, valor, idiomas, e se ele possui material ou uniforme, por exemplo.

A ideia para criar o aplicativo surgiu da própria experiência de Gaudio, que trabalhou por dez anos em restaurantes de Londres, como auxiliar de limpeza e garçom até ser promovido a gerente. Na gerência, o diretor do My Staff passou por dificuldades para suprir funcionários, especialmente quando as agências estavam fechadas.

O My Staff não tem mensalidade. O app cobra uma taxa de 16% mais R$ 2 em cima do valor contratado. Os profissionais não pagam para utilizar a plataforma. No entanto, o aplicativo não oferece um contrato de trabalho. Segundo Gaudio, a regularização acontece quando a pessoa lê e aceita os termos e condições da plataforma.

Já são dois mil cadastros em todo o Brasil, sendo mais de 50% na cidade de São Paulo. O app também está presente, com mais força, em Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Balneário Camboriú (SC) e Porto Alegre (SC). Do total de cadastros, 80% são de funcionários e 20% de estabelecimentos.

Da mesma forma que o Closeer, o My Staff faz o link entre as duas partes para jornadas de trabalho não regulares. Caso o estabelecimento goste do profissional e queira contratá-lo de forma fixa, os aplicativos não se envolvem nesse relacionamento.

Todos podem contratar

Qualquer pessoa pode contratar ou ser contratado pelo My Staff, isso quer dizer que não é necessário ter experiência para se cadastrar como profissional no app nem ter CNPJ para contratar mão de obra.

O empresário Ricardo Lahan, proprietário do Side Restaurante, em São Paulo (SP), utilizou os serviços do aplicativo duas vezes. A primeira foi para suprir a diária de um garçom do restaurante e a segunda para contratar um bartender para uma festa na casa de amigos.

“A ferramenta é muito útil por conta da praticidade. Com certeza vou utilizar mais vezes no restaurante no caso de falta de algum funcionário ou quando precisar de mão de obra extra. E sempre recomendo para amigos que fazem festas em casa”, afirma Lahan.

Abrasel aprova apps

Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, os aplicativos vêm coroar a regulamentação do trabalho intermitente, uma luta da entidade há mais de dez anos. “Em todos os lugares do mundo existe essa modalidade de contratação, fundamental para o setor de comércio e serviços. Existe uma sazonalidade no ato de consumo e o mercado precisa se adaptar a isso”, defende Solmucci.

O presidente da Abrasel destaca que os aplicativos são um caminho natural e que a tecnologia favorece o encontro entre quem procura mão de obra e quem está disponível para trabalhar. “Esses apps só tendem a crescer. Existe uma demanda muito grande de trabalho com essa flexibilidade e sempre vai haver a necessidade de conectar estabelecimentos e profissionais.”

Segundo Solmucci, o tema foi, inclusive, destaque na NRA Show, a maior feira do setor de alimentação do mundo, organizada pela Nacional Restaurant Association. O evento foi realizado em maio, em Chicago, nos Estados Unidos.

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