A decisão do banco central dos Estados Unidos de manter inalterado o estímulo monetário naquele país fez a Bolsa brasileira atingir seu maior nível em mais de três meses e o dólar cair para o menor valor desde o final de junho. Ao contrário do que os analistas previam, o Federal Reserve decidiu manter seu programa de recompra mensal de US$ 85 bilhões em títulos públicos -mecanismo adotado para estimular o país após a crise de 2008. A expectativa era de que houvesse corte no estímulo para algo entre US$ 70 bilhões e US$ 75 bilhões mensais.
O efeito foi positivo sobre os mercados emergentes, que devem manter, ao menos por ora, uma entrada maior de investimentos estrangeiros. O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, fechou em forte alta de 2,64%, a 55.702 pontos --maior pontuação desde 28 de maio deste ano.A expectativa de que não haverá redução na oferta de dólares no país também fez o real se valorizar em relação à moeda americana.
Assim, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia em queda de 0,78% em relação ao real, cotado em R$ 2,239 na venda. É o menor valor desde 23 de julho deste ano, quando estava em R$ 2,215.Já o dólar comercial, utilizado no comércio exterior, teve baixa de 2,92% em relação ao real, para R$ 2,194 -menor valor desde 26 de junho deste ano, quando estava em R$ 2,189.
Na avaliação de especialistas, embora a economia americana tenha, sim, mostrado que está se recuperando, o mercado de trabalho dos EUA ainda não está tão sólido quanto o Fed esperava para poder começar a reduzir seu programa. "A economia americana não está exatamente indo bem. O desemprego caiu, mas foi porque as pessoas desistiram de procurar trabalho, não porque foram contratadas", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Para Perfeito, isso é evidenciado pelo corte nas projeções do Fed para o crescimento da economia dos EUA, anunciado junto com a decisão de manter o estímulo monetário no país nesta tarde. De acordo com a autoridade monetária americana, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA deve crescer entre 2% e 2,3% em 2013 -a projeção anterior era de um avanço entre 2,3% e 2,8%. Para 2014, também houve corte na estimativa de crescimento, que passou para um crescimento entre 2,9% e 3,1%.
"Isso sugere, na minha visão, que a política acomodativa do Fed [programa de recompra mensal de títulos] deve continuar até meados de 2014. Já a taxa de juros só deverá subir em 2015", afirma o economista.Os investidores têm "exagerado", segundo Perfeito, na avaliação do impacto que um corte no estímulo americano teria sobre os mercados. "Desde a crise, o Fed já injetou US$ 2,7 trilhões na economia americana e, como consequência, na economia global. Reduzir o valor [do programa de estímulo] de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões mensais, ou menos, não fará grande diferença. Isso não deve provocar uma escassez de moeda americana no Brasil, por exemplo, como vinham especulando", enfatiza.
O economista da Gradual destaca ainda que estamos, no Brasil, em um processo de elevação da taxa básica de juros, a Selic. Isso deve, segundo ele, aumentar a atratividade dos investimentos no país e, diante da perspectiva de que os estímulos serão mantidos no curto prazo nos EUA, trazer mais investidores para o mercado brasileiro, garantindo a oferta de dólares por aqui.
Câmbio
Além da manutenção do estímulo do Fed, que significa que a oferta de dólares no Brasil não será restringida no curto prazo, a desvalorização da moeda americana continua amparada pelas intervenções diárias do Banco Central brasileiro no câmbio.
O Banco Central realizou pela manhã um leilão de swap cambial tradicional, que equivale à venda de dólares no mercado futuro. A autoridade vendeu, ao todo, 10 mil contratos com vencimento em 3 fevereiro de 2014, por US$ 497 milhões.
A operação estava prevista pelo plano da autoridade para conter a escalada do dólar. O programa do BC -que começou a valer em 23 de agosto- prevê a realização de leilões de swap cambial tradicionais de segunda a quinta, com oferta de US$ 500 milhões em contratos por dia, até dezembro.
Às sextas-feiras, o BC oferecerá US$ 1 bilhão por meio de linhas de crédito em dólar com compromisso de recompra -mecanismo que pode conter as cotações sem comprometer as reservas do país.
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