A reorganização societária do setor petroquímico no Sul do país, cinco anos após a consolidação do pólo do Nordeste, abre caminho para o surgimento de um grupo forte também no Sudeste, onde Suzano e Unipar têm importantes ativos junto com a Petrobras. Na avaliação de analistas do setor, o próximo passo será o fortalecimento do pólo do Sudeste, onde surgiram projetos relevantes nos últimos anos como o Rio Polímeros (Suzano, Unipar, Petrobras e BNDESPar) e o Complexo Petroquímico de Itaguaí (Petrobras, que busca sócios privados).
"Os grupos (Suzano e Unipar) não confirmam, mas se fala muito no mercado sobre eles se juntarem para formar o pólo do Sudeste, com a Petrobras também participando", disse à Reuters o analista do setor do Banco do Brasil, Nelson Matos.
Na manhã desta segunda-feira Petrobras, Braskem e Grupo Ultra anunciaram a compra dos ativos do grupo familiar Ipiranga, que atua nos setores de distribuição de combustíveis, refino, e petroquímico, por cerca de US$ 4 bilhões. Entre os ativos do grupo está a Companhia Petroquímica do Sul (Copesul), que junto com o pólo de Camaçari, na Bahia, concentram a maior parte da produção petroquímica brasileira. A exemplo da Ipiranga, Suzano e Unipar são controladas por grupos familiares - os Feffer na Suzano e os Geyer na Unipar.
Segundo Matos, a união das duas companhias pode se dar com a criação de uma terceira, onde a Petrobras poderia ser sócia. "O problema é que as duas (Suzano e Unipar) dizem que são consolidadoras, então é difícil pensar em uma comprando outra, mais fácil criar uma terceira empresa", avaliou.
Na opinião do analista do Banif Investment Banking Luiz Caetano, a união de Suzano e Unipar "é o caminho natural", porque as duas empresas já são sócias em quatro empreendimentos. Desta vez, no entanto, diferentemente do acordo anunciado nesta manhã, a Petrobras não seria decisiva no negócio.
"Todo mundo quer a Petrobras como sócia, porque ela é a fornecedora de matéria-prima... mas no caso do pólo do Sudeste, para fechar o negócio ela não é tão importante como era da Copesul, onde era sócia", explicou Caetano à Reuters. Ele disse porém que, para expandir a produção das unidades petroquímicas, é preciso garantia de longo prazo de fornecimento, o que poderia significar a entrada da Petrobras em uma esperada consolidação no Sudeste. A estatal é a grande fornecedora de matéria-prima básica do setor petroquímico, a nafta, às três centrais em operação no país.
"A consolidação torna o setor mais robusto e capaz de investir, crescer, e assim resistir às importações desses produtos", disse o especialista. Já para o diretor da consultoria Expetro Jean-Paul Prates, a Petrobras deu um importante passo no setor petroquímico, do qual se afastou "de forma equivocada" um pouco antes e durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e deve seguir nessa linha.
"Foi um passo estratégico importante da Petrobras, que vai se integrar a outros passos que está dando nesse setor, como a criação do Comperj", avaliou Prates, referindo-se ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro anunciado pela estatal no ano passado, um investimento de cerca de 8 bilhões de dólares.
Depois de praticamente aniquilar a Petroquisa, seu braço petroquímico, em privatizações na década de 1990, a Petrobras voltou com força ao setor no governo Lula e atualmente possui participações em projetos como Rio Polímeros (RJ), Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), Petroquímica Paulínia (SP), Petroquímica Suape (PE), Complexo Acrílico (MG), além de participações minoritárias na Braskem, Copesul, Petroquímica União e Petroquímica Triunfo, entre outros.