O Banco Central confirmou na noite de ontem a saída de Mário Torós do cargo de diretor de Política Monetária e a indicação de Aldo Luis Mendes, atual presidente da seguradora Aliança do Brasil, para a função. O comunicado oficial ressalta que Torós pediu para sair do BC "por motivos pessoais". A intenção de deixar a autoridade monetária já havia sido declarada internamente há alguns meses, mas o processo foi acelerado nos últimos dias após o diretor dar uma entrevista ao jornal Valor Econômico em que detalhou os bastidores da atuação do BC durante o ápice da crise financeira, no fim do ano passado. Desde a sexta-feira passada, quando foi publicada a entrevista, a situação de Torós teria se tornado "insustentável", na avaliação de uma alta fonte do governo que pediu para não ser identificada.
O nome de Aldo Mendes será levado hoje pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, ao presidente Lula para aprovação. Em seguida, terá de receber o aval do Senado. Até lá, Torós fica no cargo mas como "figurante".
Normalmente avesso à imprensa e cauteloso com as palavras, Torós detalhou ao jornal a reação do governo brasileiro à crise e divulgou dados que eram guardados a sete chaves. Informou, por exemplo, que, no auge da tensão causada pela crise, o Brasil viveu uma corrida bancária e, em poucos dias, R$ 40 bilhões migraram dos pequenos e médios bancos para as grandes instituições. Também disse que o Banco do Brasil soube por um diretor do BC que o Banco Votorantim estava com a saúde financeira fragilizada, o que poderia ter dado vantagem à instituição federal para a compra de metade do banco privado realizada meses depois.No mercado financeiro, prevaleceu a percepção que o diretor usou a entrevista como um "balanço" de sua gestão e uma forma de mostrar sua importância no processo de enfrentamento da crise. Para pessoas de dentro do BC, "vender" essa imagem é importante para Torós retornar à iniciativa privada.
Primeira de várias
No mercado financeiro, há expectativa de que a saída de Torós pode ser a primeira de uma série. Além do próprio presidente Henrique Meirelles, que pode deixar o cargo em março para disputar as eleições, os diretores de Política Econômica, Mário Mesquita, e de Liquidações, Gustavo do Vale, também teriam informado a intenção de deixar o BC brevemente.
Novo diretor
Aldo Luis Mendes, indicado pelo BC para ocupar o cargo de Torós, esteve entre 2005 e 2009 na vice-presidência de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores do Banco do Brasil e atualmente presidia a Companhia de Seguros Aliança do Brasil, subsidiária do BB. Mendes não tem ligações políticas, mas foi braço direito de Antonio de Lima Neto quando este era presidente do BB.