Ao contrário de outras transições políticas na Argentina, a troca de comando entre Cristina Kirchner e Mauricio Macri, em dezembro passado, não exibiu uma “explosão” econômica.
A situação foi bem diferente de quando Raul Alfonsin deixou o poder para entregá-lo nas mãos de Carlos Menem, em 1989, ou de quando Fernando De la Rua renunciou para Eduardo Duhalde assumir dias mais tarde, no fim de 2001.
Em vez de uma explosão, o que houve na Argentina foi uma “implosão”, pela qual o governo anterior não pagou nenhum custo político e todo o “trabalho sujo” foi deixado para seu sucessor. O mesmo teria acontecido se o candidato peronista Daniel Scioli tivesse ganhado as eleições presidenciais.
A primeira batalha que Macri teve de enfrentar foi derrubar o cerco que, desde 2011, praticamente impedia cidadãos de comprar dólares com a intenção frustrada de evitar a fuga de capitais e que caracterizou todo o governo de Cristina. Da mesma forma, na última fase kirchnerista travaram-se as importações e os lucros das empresas no exterior. As consequências dessas medidas foram estagnação da economia, queda abrupta nos níveis de investimento e o fracasso no objetivo de impedir a fuga de capitais.
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Em paralelo, o atual governo produziu uma desvalorização do peso, porque o dólar estava artificialmente desvalorizado até o final de 2015 para que a inflação não se intensificasse – e a taxa de câmbio foi unificada, para tentar reanimar a atividade econômica.
Outro problema que se impôs desde o primeiro dia da administração Macri tem a ver com diplomacia. A política externa de Cristina Kirchner tinha sido pouco pragmática e levou a várias disputas comerciais e financeiras. Macri pediu a sua equipe que abrisse canais de negociação com os detentores de títulos da dívida argentina, incluindo os chamados “fundos abutre” – e, assim, obteve uma primeira queda na taxa de juros pagos por títulos públicos federais, províncias e empresas do setor privado. Em paralelo, buscou-se a melhoria das relações com os Estados Unidos e a Europa, negligenciadas durante a década anterior.
Além disso, Macri aumentou as tarifas dos serviços públicos na cidade de Buenos Aires, que pagavam muito menos do que o restante do país, em uma disputa que gerou uma enorme disparidade de preços nos últimos anos. E, enfim, começou a reduzir o grande déficit fiscal acumulado nos últimos anos.
Números
Presidente, Macri começou a normalizar estatísticas feitas por órgãos públicos, uma vez que desde 2007 o governo anterior camuflava os dados reais da inflação, da pobreza e do crescimento econômico – entre outras variáveis –, num caso sem precedentes para um país democrático.