O principal índice da Bolsa brasileira fechou em queda nesta quinta-feira (4) e voltou a ter desempenho negativo no ano, pressionado pela forte desvalorização das ações da Petrobras, após a agência de classificação de risco Moody's ter rebaixado o rating individual da estatal, medido pelo critério BCA (Baseline Credit Assessment), de Baa3 para Ba1.
Essa nota não é a avaliação global de emissor da companhia, principal referência para o mercado, mas representa o risco de gestão da empresa desconsiderando o suporte de seu maior acionista, o governo brasileiro, segundo a agência. O rating (nota) global de emissor da Petrobras foi mantido em Baa2, com perspectiva negativa.
A Moody's atribuiu sua decisão ao crescente risco de liquidez, devido às investigações sobre alegações de corrupção dentro da Petrobras. Nesta semana, a Fitch, outra agência de risco, já havia alertado que as alegações de escândalos de corrupção na estatal podem afetar a qualidade de crédito da companhia, uma vez que ameaçam o aumento da produção e o acesso a mercados de capitais de dívida.
O Ibovespa caiu 1,71%, para 51.426 pontos. Com isso, o índice passou a ter desempenho negativo no acumulado do ano, com ligeiro recuo de 0,16%.
As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras tiveram desvalorização de 3,93% nesta quinta, para R$ 12,23 cada uma. Elas chegaram a cair até 4,4% ao longo do dia. Já os papéis ordinários da empresa (com direito a voto) recuaram 4,75%, para R$ 11,43.
"O que os investidores [de Petrobras] estão olhando é que o rebaixamento individual da companhia pode ser sinalização de um possível 'downgrade' do rating de crédito global. Isso pesa bastante, pois a perspectiva está negativa", diz o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos.
Segundo Kim, já se esperava algum movimento por parte das agências de classificação de risco em relação à Petrobras. "Na Moody's, estamos dois níveis acima do grau especulativo, por isso ninguém ainda precifica a perda do grau de investimento", afirma o analista.
Henrique Florentino, analista da UM Investimentos, lembra que a queda das ações da Petrobras é decorrente de uma forte alta anterior motivada pela possibilidade de alternância de poder no governo. "Eu não estou otimista com a ação da Petrobras no curto prazo. Não acho que tem espaço macroeconômico para isso, embora a empresa possa ser beneficiada futuramente com mais reajuste do combustível", diz.
Para Florentino, o pequeno investidor de Petrobras tem que ponderar se, no curto prazo, o cenário para a empresa vai melhorar ou piorar. "Se ele acha que vai piorar, tem razões para vender o papel e depois voltar, mesmo que a ação esteja em outro patamar de preço. Por outro lado, outros investidores podem ser atraídos para o papel, por considerarem que ele está barato."
AGENDA
Os principais mercados de ações no exterior fecharam em queda e ajudaram a pressionar o Ibovespa. Lá fora, a principal referência foram as declarações do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, dizendo que vai decidir no início de 2015 se mais medidas serão necessárias para estimular a economia da zona do euro.
Os investidores também repercutiram nesta quinta a decisão do Banco Central, na noite da véspera, de aumentar o juro básico da economia, a Selic. A taxa subiu 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano. A decisão já era esperada por parte do mercado, embora alguns economistas enxergassem a chance de um aperto mais significativo, de 0,75 ponto percentual.
Ainda esteve no radar do mercado a aprovação no Congresso do texto principal do projeto que viabiliza a manobra fiscal que permite ao governo fechar as contas deste ano. A votação, no entanto, não foi concluída.
PAPÉIS
As ações preferenciais da Vale caíram 1,65%, para R$ 18,50. A mineradora teve sua recomendação cortada pelo Bank of America Merrill Lynch de compra para neutra. A BRF também teve sua recomendação cortada, de compra para neutra, pelo Goldman Sachs. As ações da empresa de alimentos cederam 2,46%, para R$ 63,40 cada uma.
Entre os bancos, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, tiveram queda Itaú Unibanco (-1,49%), Santander Brasil (-2,55%) e o papel preferencial do Bradesco (-2,14%). Já o Banco do Brasil mostrou desvalorização de 1,33%, para R$ 26,64.
CÂMBIO
No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 1,28% sobre o real, cotado em R$ 2,586 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 1,29%, para R$ 2,590.
Segundo operadores, a alta do dólar aconteceu após o Banco Central sinalizar em seu comunicado na véspera que pode desacelerar o ritmo do aperto monetário, enfraquecendo as expectativas de que juros mais altos no Brasil poderiam atrair mais recursos externos e, consequentemente, reduzir a pressão sobre o preço da moeda americana.
O Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, por meio do leilão de 4.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 197,9 milhões.
A autoridade também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10 mil contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 489,6 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 20% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,827 bilhões.
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