
Depois de algumas semanas escondido, com medo da crise e das taxas estratosféricas de juro, o consumidor estimulado pelo pacote tributário do governo federal ganhou coragem para negociar um carro novo. Desde o fim de semana, as concessionárias estão batendo recordes de movimentação. Comparado ao que vinha sendo registrado em novembro e no começo de dezembro, as vendas triplicaram, segundo avaliação da regional paranaense da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave-PR).
"A informação que tenho é que várias lojas permaneceram movimentadas hoje (ontem), que não é exatamente um dia típico de vendas", afirmou o presidente da Fenabrave-PR, Luiz Antônio Sebben. Segundo ele, o fator importante para esse resultado é que as montadoras e lojas acumularam os benefícios oferecidos com a renúncia fiscal do governo, o que tornou os preços "especialmente atrativos" com todos os descontos, os veículos passaram a custar entre R$ 2 mil e R$ 3 mil a menos.
"Nossas lojas realmente ficaram muito cheias, estavam parecendo shopping em véspera de Natal", disse o diretor da rede de concessionárias Volkswagen Corujão, Antônio Carlos Altheim. De acordo com ele, a rede estava vendendo cerca de 50 automóveis por fim de semana, e, no último, o número passou de 80. "Acredito que com esses incentivos o setor voltará ao caminho normal, inclusive em 2009", completou. A opinião de Altheim, no entanto, não é compartilhada pelos analistas econômicos.
Para poder aplicar imediatamente o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados, que incide na indústria e não no comércio, as concessionárias fizeram um acordo com as montadoras: as notas fiscais dos automóveis que estavam em estoque foram devolvidas e refaturadas nas fábricas. "Já sabíamos que isso iria gerar três ou quatro dias de tumulto, mas as montadoras estão dando conta da demanda", afirmou Altheim.
Revertendo o excesso de estoque, que até a semana passada pressionava para baixo o preço dos veículos, já há quem diga que agora faltam modelos. "Das linhas de mil cilindradas do Palio, Mille e Siena, hoje estamos com falta de alguns modelos e cores específicos", afirmou o gerente comercial da Fiat Florença, Ademilson Alano. A explicação para isso, de acordo com ele, é que o fim de semana foi excepcional: "Estávamos comercializando de 20 a 25 automóveis por fim de semana. Nesse último, foram mais de 100".
Para o presidente da Fenabrave-PR, ainda é muito cedo para falar em falta de veículos, mesmo com as montadoras em férias coletivas. "Se tivermos mais dois ou três finais de semana iguais a esse, é possível que apareçam modelos com programação de entrega. Isso não é falta, mas sim um cronograma de atendimento às concessionárias", explicou.
O comerciante José Júlio de Castro está planejando a compra de um automóvel há cerca de seis meses, e aproveitou a reviravolta no setor para checar as condições de pagamento. Quando conversou com a reportagem ainda não havia batido o martelo, mas estava prestes a fechar a compra de um Gol 1.6. "Estou há tempo esperando pela melhor oportunidade, mas vou financiar uma parte do valor, então o que vai me fazer decidir mesmo é o preço", declarou.