Com um prejuízo de R$ 2,1 bilhões no ano passado e um novo rombo de R$ 900 milhões nos cinco primeiros meses de 2016, os Correios se preparam para mais um tombo nas finanças: terão de provisionar R$ 1,8 bilhão da Reserva Técnica de Serviço Anterior (RTSA), recursos que poderão ser aportados no Postalis, o fundo de pensão dos servidores. Em entrevista ao jornal “O Globo”, o presidente da estatal, Guilherme Campos, disse que, para tentar levantar as finanças, a empresa cortará patrocínios, venderá imóveis, cogita empréstimo bancário, renegocia a parceria com o Banco do Brasil no Banco Postal e ainda quer aumentar a participação dos funcionários no plano de saúde.
“As despesas com patrocínio estavam em R$ 300 milhões no ano passado. Este ano estão em R$ 180 milhões e quero baixar o valor pela metade no ano que vem”, afirmou o presidente dos Correios. “Chegou aqui a renovação do Aberto de Tênis no Rio no ano que vem. Estamos fora.”
Tudo isso, porém, não será suficiente para conseguir dinheiro até setembro. Campos admite que pode faltar dinheiro para pagar os 117,4 mil funcionários da estatal. A folha de pagamento da instituição corresponde a cerca de 60% a 70% do faturamento anual, que está em torno de R$ 10 bilhões.
“A partir de setembro, as coisas começam a se complicar”, disse Campos.
Para não atrasar salários, o presidente da empresa pedirá ao Tesouro Nacional a devolução de R$ 3,8 bilhões retirados do caixa no governo anterior. Ele argumentou que, de 2007 a 2013, o Tesouro tirou do caixa dos Correios mais de R$ 6 bilhões. Como, pela legislação em vigor, a estatal teria obrigação de repassar 25% do seu resultado, o Tesouro, afirma, teria retirado R$ 3,8 bilhões a mais.
“A empresa está indo buscar de volta aquilo que foi retirado antecipadamente”, resumiu Campos. “Estou começando devagar. Fiz um mês aqui. Paralelamente a isso, temos empréstimo bancário e venda de ativos. Se alguém tiver alguma outra ideia brilhante, pode falar. Além disso, os Correios têm muitos imóveis em várias regiões nobres do Brasil inteiro”, afirmou.
Greve
Outro problema é a greve que pode ocorrer em agosto, que Campos classifica de “tragédia para a empresa”. Ele observou que, nos anos de 2013 e 2014, as paralisações tiveram um impacto de R$ 200 milhões. Para evitar que essa situação se repita, o presidente da estatal conta que está negociando com 36 sindicatos e quatro associações de servidores:
“Greve é um desastre para a empresa na situação que ela está hoje, é uma tragédia. Eu chamo todo mundo para a responsabilidade. Não sou um iluminado que vai resolver sozinho”, reforçou. “Eu gostaria de mudar o calendário oficial brasileiro, que tem carnaval, coelhinho da Páscoa, greve dos Correios e Natal. Eu quero tirar a greve dos Correios do calendário”.
Sobre uma possível privatização dos Correios, Campos revelou que essa é a pergunta que mais ouve desde que assumiu o cargo: “Quem pode responder isso é o presidente (interino, Michel) Temer. Não tenho condição de responder.”
Outro grave problema que ele aponta na empresa é o absenteísmo. O elevado índice de faltas, por diversas razões, preocupa a direção dos Correios. A média no Brasil é de 15%, mas há estados, como o Rio, que registram um índice de absenteísmo de 20%.
“Os Correios fazem mal à saúde. O índice de falta ao trabalho é absurdo. O Rio de Janeiro, por exemplo, está o caos. O cenário do Rio é muito ruim, e a questão principal é a segurança”, disse.
Crise do Postalis
Engenheiro civil, filho e neto de comerciantes e ex-deputado federal, Campos conta que, ao chegar aos Correios, encontrou um corpo de funcionários desmotivado e com baixa autoestima. Ele ressalta que a grave crise pela qual passa o Postalis não será resolvida a curto prazo. Campos defende o provisionamento do RTSA, da ordem de R$ 1,8 bilhão, no balanço.
Quanto ao plano de saúde dos Correios, ele afirmou que a atual equação, em que a empresa paga 90%, e os funcionários, 10%, terá de mudar: “Do jeito que está, a empresa não aguenta.”
Campos considera ainda que uma das alternativas para melhorar a situação financeira dos Correios é ampliar o número de agências franqueadas. Hoje são mil em todo o país.
“Vamos dar mais munição para as atuais e abrir para novas franquias”, explicou.
Já com relação ao contrato dos Correios com o Banco do Brasil, referente ao Banco Postal, Campos disse que as negociações estão em andamento. As conversas, admitiu, não têm sido fáceis.
“O tipo de atividade que o Banco Postal faz, o sistema financeiro não quer mais. Os bancos não querem clientes na agência nem trabalhar com dinheiro. Correspondente bancário faz justamente o inverso”, disse.
Perguntado sobre como vê a economia brasileira, declarou: “A gente viveu um sonho. A gente cresceu, distribuiu riqueza, foi no crédito, e crédito uma hora tem de ser pago.”