A presidente Dilma Rousseff montou nesta quinta-feira (3) uma operação para segurar no governo Joaquim Levy e acalmar o mercado, que abriu o dia levando o dólar a superar R$ 3,80 durante a sessão com as indicações dadas pelo ministro da Fazenda de que poderia deixar o cargo.
Com receio de aprofundar a crise política e econômica, auxiliares da petista entraram em cena para desfazer qualquer rumor nesse sentido. Após reunião de emergência no Palácio da Alvorada, ministros deixaram o encontro preocupados em anunciar que Levy continua no posto.
Além de Dilma e Levy, participaram da conversa os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do Planejamento, Nelson Barbosa, para afinar o discurso em torno do titular da Fazenda e pacificar o clima na equipe econômica.
A presidente também orientou os auxiliares a dar entrevistas garantindo que o governo negociará medidas para cumprir a meta de superavit primário de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano, como defendia Levy, que foi contra mandar ao Congresso a proposta de Orçamento para 2016 com previsão de déficit primário.
O ministro havia cobrado unidade de discurso para evitar que ganhassem força as dúvidas sobre a sobrevivência do ajuste fiscal, a bandeira que o levou a assumir o cargo no fim do ano passado.
“Levy fica. A reunião foi muito boa”, disse Mercadante. “Ele tem compromisso com o Brasil.” Braço direito da presidente, Mercadante atribuiu os rumores de demissão de Levy a “mal-informados” e “mal-intencionados”. “Tem gente especulando e tentando ganhar dinheiro com turbulência”, afirmou o ministro. Em sintonia com a orientação de Dilma, Mercadante disse também que o governo buscará cumprir sua meta de superávit no ano que vem.
A mudança na estratégia do governo, que até segunda (31) fazia questão de dizer que optara por um Orçamento “realista e transparente”, ocorreu após Levy indicar em conversa com a própria Dilma que sentia falta de apoio e poderia deixar o governo.
Confiança
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, viajou a Brasília na quarta-feira (1) para acalmar o ministro e se reunir com Dilma. Antes de aceitar o convite para a Fazenda, Levy trabalhava no Bradesco.
Na conversa com a presidente, o banqueiro alertou que o Orçamento deficitário e os rumores de que Levy poderia sair estavam enfraquecendo o governo e criando o risco de uma crise de confiança, reforçando a disparada na cotação do dólar.
Depois do encontro, Dilma deu entrevista no Palácio do Planalto e defendeu publicamente seu ministro da Fazenda. Garantiu que o auxiliar tem seu “apoio e respeito”.