Produtor está preocupado com mercado, crédito e custo
O produtor teme o comportamento do mercado e reduziu os investimentos na safra, mas não a ponto de comprometer a rentabilidade da soja. O quadro é evidente no Norte do Paraná. Produtores de Londrina, Sertanópolis, Cornélio Procópio, Leópolis, Porecatu e Florestópolis ouvidos pela Expedição Safra 2008/09 tomaram essa decisão. Nesta região, a soja predomina no verão, porque o clima não favorece o milho. A soja, cujo plantio está em cerca de 20%, deve render entre 2,5 mil e 3 mil quilos por hectare, dependendo das propriedades do solo e do clima.
Os custos da soja estão em 35 sacas por hectare e cresceram 38% no último ano, reclama o produtor Eduardo Caldeirão, de Sertanópolis, que também cria gado de corte. Ele afirma que, em seu caso, a produção de grãos ainda é mais vantajosa.
Caldeirão não acredita que a crise financeira internacional vá inverter esse quadro. Ele já planeja o cultivo de milho, logo após a colheita da soja, a partir de fevereiro de 2009. Sua preocupação é com os custos do cereal, que estariam subindo mais que os da oleaginosa.
A crise e a possível de queda nos preços das commodities interferem na produção rural mesmo antes de reflexos diretos nas cotações internas, afirma a presidente do Sindicato Rural de Porecatu, Ana Tereza Ribeiro. Ela planta 1,2 mil hectares de cana e depende de financiamento no cultivo. "Posso ter dificuldade de acessar os recursos se houver problema no crédito." Ana Tereza conta que 15% do corte da cana, que vai até o fim do ano, deve ser adiado por decisão da indústria, que prevê demanda menor por açúcar e álcool.
Trigo
Com a colheita do trigo na reta final, os produtores encontram dificuldades para vender a produção no Paraná. A indústria alega estar com estoques suficientes para esta época. Como o preço atual está baixo, na média de R$ 26 a saca (R$ 3 abaixo do custo operacional), não interessa ao produtor vender agora. No entanto, muitos sentem-se mais expostos à crise financeira por causa disso.
É o caso de José Tavares, de Leópolis, que plantou 130 hectares. "Não tenho mais espaço para nada", afirma, enquanto avança no plantio de 270 hectares de soja e 120 hectares de milho. Até a colheita da safra de verão, ele poderá manter o trigo estocado, mas depois disso terá de vender a produção.
José Rocher
Ao contrário do ano passado, quando o plantio da safra de verão atrasou em até 30 dias por causa da estiagem, o ciclo atual segue em ritmo acelerado no Paraná. Em algumas regiões, a implantação das lavouras de milho e soja foi antecipada em duas ou três semanas. O motivo foram as chuvas que favoreceram as operações de máquinas no final de setembro e início de outubro, mas principalmente o interesse no cultivo da safrinha a partir de janeiro. Se depender da vontade do produtor, a segunda safra de milho deve bater um novo recorde de área e produção no Paraná.
São grandes e muitas as variáveis, como clima, oferta e demanda e, principalmente, mercado. Mas antecipação do cultivo de verão é uma forte sinalização para o aumento de área da safrinha. A constatação é das equipes de técnicos e jornalistas da Expedição Safra, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), que percorrem nesta semana as regiões do Norte Pioneiro, Norte, Noroeste e Oeste do Paraná.
Na área da Coamo, com sede em Campo Mourão (Noroeste), 94% dos 252 mil hectares destinados ao cereal estão plantados. É o maior porcentual para esta época em 20 anos, explica Antonio Carlos Ostrowski, agrônomo e supervisor de unidades da cooperativa. A soja está com 21% dos 1,1 milhão de hectares implantados. Nesse caso, a área coberta é a maior proporção dos últimos 16 anos, período em que a média se manteve em 10%. No ano passado, considerando que o plantio atrasou, apenas 5% do total a ser cultivado havia sido semeado, destaca Ostrowski.
Entre os cooperados da C. Vale, em Palotina (Oeste) a situação não é diferente. Os 11,5 mil hectares do milho já estão concluídos e a soja está com mais de 90% dos 143,5 mil hectares plantados.
Mas o plantio antecipado não é unanimidade. O produtor José Armando Gaffuri, de Toledo, também no Oeste, começou ontem a plantar os seus 50 hectares de soja. "Não penso na safrinha, mas apenas em fazer uma boa safra", diz Gaffuri, que prefere plantar, na melhor época recomendada, variedades de ciclo longo e mais produtivas. No ano passado, o resultado foi uma produtividade média de 3,9 mil quilos/hectares, praticamente 1 mil quilos acima da média do estado.
Um novo levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab), que deve ser divulgado hoje, revela que perto de 80% da área de milho já estão prontos, enquanto a soja se aproxima dos 30%.
De acordo com os técnicos, os números estão em linha com a última safra. A oleaginosa estaria um pouco adiantada em relação à média. No ciclo anterior, o Paraná plantou 1,38 milhão hectares de milho safrinha e colheu 9,7 milhões de toneladas.
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