O primeiro mercado permanente de produtos orgânicos do país, cuja construção será concluída em 2007, em Curitiba, oferecerá consultoria de marketing e administração para os comerciantes que ali se instalarem. Uma incubadora capacitará os 21 empresários, que devem ser definidos até julho do ano que vem. O projeto ganhou reforço depois que uma pesquisa revelou a carência de informação por parte do consumidor e de profissionalização por parte do produtor. Outra decisão foi elevar de cinco para nove as feiras orgânicas da cidade, privilegiando os bairros de população com maior renda, onde estão 71% dos consumidores de produtos livres de agrotóxicos.
A Secretaria Municipal de Abastecimento entrevistou 472 pessoas que já consomem orgânicos, das quais apenas 1,8% compram os produtos no grande varejo. Apesar de o mercado consumidor ser estimado em 507 mil curitibanos (classes A e B), apenas 15 mil freqüentam semanalmente as feiras específicas da cidade, que são a escolha de 53% dos entrevistados. A abertura do mercado permanente, prevista para outubro de 2007, deve agregar no primeiro ano 6,4 mil consumidores ao Mercado Municipal, que hoje recebe semanalmente 43 mil pessoas.
Outra descoberta da pesquisa foi que o principal motivo pelo qual as pessoas compram orgânicos é a saúde (72%), e não o sabor, como se pensava. Grande parte deseja receber mais informações sobre os produtos e aumentar o número de itens orgânicos na geladeira. Por exemplo, o consumidor deseja consumir carne, leite e derivados orgânicos, mas quase não há oferta.
Apesar do grande mercado em potencial, a produção na região metropolitana é pequena e concentrada em apenas 16 tipos de legumes, hortaliças e frutas, mostra o levantamento.
"Falta uma visão maior de marketing por parte de produtores e supermercados", diz o diretor de abastecimento comercial da Secretaria, Luiz Gusi. Entre os entrevistados ouvidos em grandes lojas, 41% identifica produtos orgânicos pela embalagem. Para Gusi, essa é uma mostra da falta de sinalização específica no varejo. Apenas 9% dos consumidores guiam-se por placas indicativas dos produtos orgânicos.
Segundo a pesquisa, os entrevistados só não consomem mais pelo preço alto (25%), pela pouca diversidade de produtos (18%) e de pontos de venda (17%).
Foram ouvidos também 56 produtores da região de Curitiba e uma fabricante de insumos orgânicos. Destes, apenas 5,4% começaram o negócio para ganhar dinheiro. A maioria, por acreditar no conceito de alimentação saudável. "Apesar da boa intenção, o fato de o objetivo do plantio não ser econômico torna a atividade pouco profissional", explica Gusi. À frente do mercado municipal ampliado, ele espera fortalecer o uso de ferramentas de marketing e planejamento entre os produtores.
Um dos planos é organizar exposições com um mix maior de produtos orgânicos, e estimular a organização dos produtores em cooperativas. Mas o mercado não será protecionista. Dos 21 espaços para lojas, apenas 6 serão reservados a agricultores familiares do Paraná, para que, em contato com empresas nacionais, os produtores "se inspirem" e elevem o valor de seus produtos.
Em outubro, durante a última feira Biofach de São Paulo, a direção do Mercado Municipal apresentou o objetivo de diversificar as vendas e recebeu várias propostas de fornecedores. "São empresas de cosméticos, agroindústria, in natura, muito variadas."
O mercado de orgânicos movimenta US$ 25 bilhões ao ano, dos quais US$ 300 milhões no Brasil, onde cresce cerca de 35% todos os anos. Para implementar o primeiro mercado específico do país, o Ministério do Desenvovimento Agrário entrou com metade dos recursos, que totalizam R$ 3,7 milhões e servirão para erguer a estrutura de 3,7 mil metros quadrados, em dois andares. A praça de alimentação orgânica do Mercado terá um restaurante e três lanchonetes.