O governo argentino pode recorrer a instituições multilaterais para não ter que pagar a dívida que não reconhece como legítima a dos credores que ficaram de fora das negociações de 2005 e 2010. O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, citou o Tribunal de Haia e a assembleia das Nações Unidas como possíveis alternativas.
A presidente Cristina Kirchner reforçou ontem a ideia, dizendo que o país "vai usar todos os instrumentos legais, de direito nacional e internacional" para não ter que pagar mais aos fundos "abutres" do que desembolsa aos credores dos títulos negociados (que valem cerca de 30% do valor original).
Ela reafirmou, como membros do governo vêm dizendo, que, apesar de os credores não terem recebido o pagamento que venceu na última quarta-feira, não houve calote, pois a Argentina depositou o dinheiro. "Dizer que há um calote é uma tontice atômica", reforçou em uma coletiva o ministro da Economia, Axel Kicillof.
Audiência
O juiz americano Thomas Griesa convocou uma audiência para a manhã de hoje sobre o caso da dívida argentina. Especula-se que representantes de bancos privados estariam negociando com os credores que não trocaram seus papeis e que ganharam na Justiça americana o direito de receber US$ 1,3 bilhão da Argentina.
O pagamento a eles teria que ser simultâneo ao da outra parcela da dívida, que venceu na quarta-feira, com o grupo que renegociou seus títulos.
De acordo com o Wall Street Journal, o banco JP Morgan está reunido com alguns fundos litigantes. A proposta seria comprar 100% dos títulos, o que resolveria o calote. Em troca, os credores concordariam em interceder por uma suspensão da execução da sentença ante a Justiça americana, dando a chance de a Argentina pagar a parcela dos títulos reestruturados (e que está congelada).
Água fria
O calote técnico decretado pela Argentina enterrou de vez qualquer possibilidade de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia ainda neste ano. A avaliação é que não há clima neste momento. De acordo com técnicos do governo brasileiro, a hipótese de um entendimento só é viável se, em uma primeira etapa, a zona de livre comércio não incluir os argentinos.