O governo argentino acusou nesta quarta-feira a Petrobras e a Shell de desabastecerem o mercado local com o objetivo de que a filial local, Repsol-YPF, aumente os preços dos combustíveis.
Os postos de gasolina argentinos registraram desabastecimentos do combustível nos últimos dias, como consequência de restrições nas vendas em meio à queda dos estoques.
O ministro de Planejamento Federal, Investimento Público e Serviços da Argentina, Julio De Vido, disse através de comunicado que "as petrolíferas Petrobras e Shell relutam em refinar petróleo para desabastecer o mercado, obrigando a YPF a aumentar seus preços."
Ele acrescentou que governo fará intervenção para que as refinarias trabalhem com a capacidade máxima e disse que "chegará a embaixada do Brasil a preocupação do governo argentino com a atitude pouco ética da Petrobras."
De Vido disse que as petrolíferas estão provocando "uma campanha midiática que tende a gerar uma incerteza entre os consumidores, que diante do alerta de escassez vão aos postos, provocando mais complicações."
Diante deste panorama, explicou ele, "não existe falta de capacidade instalada (na Argentina), e sim uma decisão por parte dessas empresas de refinar menos petróleo para causar este cenário de desabastecimento."
A Secretaria de Comércio do Interior enviou inspetores aos postos de gasolina.
A YPF, que comercializa seus combustíveis na Argentina a preços levemente menores do que os da Petrobras e da Shell, disse na terça-feira que importará 50 milhões de litros de gasolina para aliviar as restrições das vendas.
Também pelo aumento da demanda por gasolina, a Petrobras no Brasil já importou este ano 1,2 milhão de litros da commodity, produto do qual normalmente é exportadora. O consumo diário de gasolina no Brasil gira em torno dos 400 mil barris.
De Vido disse que "como uma empresa com participação nacional, a YPF mantém um preço de mercado que a atitude irresponsável da Petrobras e da Shell busca alterar, o que fará com que consumidores paguem preços mais altos."
Uma fonte da YPF disse que as vendas da companhia estão subindo porque está absoverndo parte da demanda doméstica e seus concorrentes estão vendendo menos.
A Esso, uma unidade da Exxon Mobil, citada por uma reportagem local, não negou, e a Petrobras disse em comunicado que não registrou nenhum desabastecimento e suas refinarias estão operando com normalidade.
A Argentina importa diesel regularmente, mas não tem feito o mesmo com gasolina há decadas.
Os combustíveis são subsidiados pelo governo e os preços estão cerca de 15 por cento abaixo da média internacional.
As reservas comprovadas de petróleo e gás da Argentina caíram 9 por cento e 39 por cento, respectivamente, entre 2001 e 2008, e as exportações estão retrocedendo.
A YPF controla mais da metade da capacidade de refino do país e cerca de 40 por cento da produção de petróleo.