Cegonhas vindas da Argentina estão em Uruguaiana (RS) e podem levar até dois meses para entrar no Brasil| Foto: Anderson Petroceli

Entenda o caso

Vizinhos adotaram escalada de restrições a importações.

Barreiras

Desde o dia 13, o Brasil não está permitindo a liberação automática de importações do setor automotivo – o fabricante de automóveis terá de pedir uma licença prévia para a liberação de guias de importação para entrar no mercado brasileiro, em um processo que não pode levar mais de 60 dias.

Precedente

A Argentina já inclui vários produtos brasileiros em seu sistema de licenças não automáticas – a lista foi ampliada em fevereiro, apesar dos protestos do governo brasileiro. Um dos setores mais atingidos é o de maquinário agrícola. Além disso, barreiras do Ministério da Saúde argentino afetam principalmente os setores de chocolates, amendoins, balas, massas e biscoitos.

Retaliação?

A medida, adotada pelo Brasil, segundo as regras da Organização Mundial do Comércio, não pode ser dirigida a apenas um país. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, alega que o real objetivo da decisão é combater o déficit brasileiro no setor automotivo – que chegou a US$ 1,9 bilhão de janeiro a abril de 2011 –, mas fontes afirmam que as instruções do governo eram de só liberar os carros vindos da Argentina no fim do prazo de 60 dias, enquanto os importados de outros países seriam liberados mais rapidamente. Assim, o procedimento brasileiro se tornaria, na prática, uma retaliação às práticas argentinas, que prejudicam setores produtivos brasileiros.

Modelos

Montadoras como Renault, Ford e Toyota têm seus veículos fabricados ou montados no país vizinho. A Fiat importa da fábrica na Argentina o Siena, também produzido no Brasil. A GM traz o Agile da Argentina, o Camaro do Canadá, o Malibu dos EUA e a Captiva do México. O Focus e o Ranger, da Ford, vêm da Argentina. Já o Fusion e o New Fiesta, do México.

Impacto

Importadores estimam que nas próximas semanas já devem começar a faltar carros importados nas concessionárias brasileiras. Já a indústria automotiva da Argentina deve sofrer bastante – de janeiro a abril de 2011, a Argentina exportou 142.773 das 231.918 unidades produzidas no período. Do total exportado, 82% foram para o mercado brasileiro. O setor representa cerca de 40% das exportações argentinas para o Brasil.

CARREGANDO :)

O governo da Argentina voltou a pedir ao Brasil que libere os automóveis que estão parados na fronteira brasileira à espera de concessão de licença de importação, enquanto os dois países não chegam a um acordo. O pedido foi feito pela ministra de Indústria, Débora Giorgi, ao embaixador brasileiro em Buenos Aires, Enio Cordeiro, durante reunião de mais de duas horas, realizada na manhã de ontem. "A principal reivindicação é de que o lado brasileiro tenha um gesto de boa vontade e libere uma parte dos automóveis, mas consideramos que medidas de boa vontade devem ser recíprocas", disse o embaixador, deixando claro que o Brasil não pretende ceder.

"Eu mencionei à ministra que alguns setores requerem uma atenção imediata, como pneus, baterias e calçados", detalhou Cordeiro, afirmando que estes três setores foram enumerados pelo Ministério do Desen­vol­vimento, Indústria e Comércio. O embaixador saiu da reunião com o compromisso do secretário argentino de Indústria, Eduardo Bianchi, de que a Argen­tina fará um levantamento sobre produtos brasileiros que foram afetados pelas barreiras argentinas. "Recebi indicação do Bianchi de que vão olhar como estão estas licenças", afirmou.

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Diálogo

Os dois países dão sinais de que estão dispostos a ceder na briga e buscam estabelecer um diálogo. "Existe a melhor inclinação do lado brasileiro de buscar solução que satisfaça os dois lados e percebi que, por parte da ministra Giorgi, também há preocupação em solucionar o problema", relatou o embaixador, em entrevista aos correspondentes brasileiros na capital argentina.

Segundo ele, os dois governos estão tentando marcar a primeira reunião de negociação para a próxima semana. "Em princípio, sugerimos uma reunião entre os dois secretários, mas a Argentina quer um encontro mais amplo, da comissão de monitoramento do comércio, e existem dificuldades para fixar a data", informou o embaixador. No próximo dia 25 será feriado nacional na Argentina e, antes desse dia, o Brasil considera difícil reunir todos os representantes da comissão de monitoramento do comércio bilateral.

Cordeiro repetiu argumento do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, de que as barreiras contra os automóveis não são dirigidas à Argentina, mas reconheceu que a medida afeta o país, porque o maior volume de importação brasileira de automóveis é de origem argentina. O mesmo ocorre com as restrições argentinas que, segundo ele, não são direcionadas ao Brasil, mas produzem impacto negativo na indústria brasileira porque incluem um quarto da pauta exportadora para o mercado vizinho.