A desvalorização cambial que ocorreu na Argentina está provocando uma pressão inflacionária que está aumentando a tensão no país. Consultorias preveem que os preços devem subir mais de 40% neste ano. A reação popular tem sido se organizar contra os estabelecimentos que sobem os preços.
Na sexta-feira, milhares de pessoas aderiram a um "blecaute de consumo" que convidava os argentinos a não comprar em supermercados, cadeias de eletrodomésticos, nem abastecer seus carros durante o dia todo, em protesto pelos aumentos de preços após a desvalorização do peso.
A chamada ao boicote foi beneficiada pelas intensas chuvas e tempestades elétricas que castigaram grande parte do país, inclusive a capital Buenos Aires. A iniciativa, divulgada através das redes sociais, onde alcançou mais de 200 mil adesões, foi respaldada também por algumas das principais associações de consumidores do país, como Usuários e Consumidores e a União de Consumidores Argentinos (UUC).
Uma das empresas mais visadas no país é a Shell, que subiu o preço de seus combustíveis em 12% na segunda-feira passada, mas dois dias depois moderou a alta a 6% após um acordo com o governo liderado por Cristina Kirchner.
Nas últimas semanas, o governo argentino manteve reuniões com os setores produtivos para conter a inflação, mas os consumidores denunciam que continuam os aumentos.
Organizações de consumidores denunciaram perante a Secretaria de Comércio Interior da Argentina aumentos de até 50% nos preços dos remédios. Segundo as entidades denunciantes, os 34 laboratórios analisados produziram aumentos de entre 15% e 50% em 5 mil remédios entre os dias 20 de janeiro e 1 de fevereiro.
As organizações de consumidores se deram conta do aumento dos preços quando vários aposentados lhes informaram que tinha havido uma alta nos remédios. O aumento dos remédios ocorre enquanto o governo implementa o plano "Preços Cuidados", que tenta frear a escalada inflacionária depois que o peso argentino se desvalorizou mais de 22% em relação ao dólar durante janeiro.