Valorização
Preço atribuído às obras não tem critério definido
O nome e a trajetória do artista têm peso no valor de uma obra de arte, mas os galeristas reclamam da falta de parâmetros dos preços praticados hoje. "Os artistas novos começam muito badalados", afirma Zilda Fraletti, há 30 anos no mercado de arte.
Essa falta de referência não é uma exclusividade do mercado brasileiro. Em nível global, também não há uma regra transparente para a precificação, afirma Guilherme Simões de Assis, dono da galeria SIM. "Isso premia artistas novos, que vendem suas obras por valores altíssimos, mas não valoriza quem está há anos no mercado. Ou seja, a obra do artista não tem liquidez, não tem projeção futura, mas custa caro", diz.
As grandes galerias entendem que o talento do artista vai refletir no preço das suas obras a partir do momento em que o seu trabalho tiver visibilidade em eventos importantes como feiras, exposições e museus, além de abrangência no mercado nacional e internacional. É esse trabalho para promover os artistas que diferencia uma galeria de um centro comercial que vende arte, avalia Guilherme.
Crescimento
Desde 2010, o mercado de arte contemporânea vem crescendo a uma média de 22%. Na avaliação de Mônica Esmanhotto, gerente-executiva do Projeto Latitude, não se trata de um pico, mas de um crescimento consistente verificados nos últimos cinco anos. Não à toa, em novembro de 2012, a obra Meu Limão (2000), da carioca Beatriz Milhazes, foi vendida pela leiloeira inglesa Sotheby´s por US$ 2,1 milhões de dólares (cerca de R$ 4,8 milhões) e conquistou o posto de obra de arte de arte mais cara de um artista brasileiro vivo. Longe dos grandes centros de arte, a história é outra. Há 19 anos à frente da galeria Ybakatu, Tuca Nissel diz que o mercado local não evoluiu. "Existe um mercado de arte contemporânea muito bom, mas não aqui em Curitiba".
As cifras milionárias pagas por obras das artistas brasileiras Adriana Varejão e Beatriz Milhazes nos últimos três anos não deixam dúvidas sobre o bom momento da arte brasileira. Mas a euforia do mercado de arte nacional concentrado no eixo Rio-São Paulo não se repete em Curitiba. Para especialistas, a "timidez" do mercado local não tem a ver com a produção artística feita e vendida aqui, mas com a escassez de compradores e, em especial, de colecionadores.
"Curitiba está fora do eixo do mercado de arte brasileiro em volume de vendas assim como o Brasil está fora do eixo internacional, liderado por países como China, Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha", afirma Mônica Esmanhotto, gerente-executiva do Projeto Latitude, uma parceria da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) com a Agência Brasileira de Promoções de Exportações e Investimentos (Apex). O projeto Latitude representa 52 galerias de arte contemporânea em sete diferentes estados brasileiros, incluindo a SIM Galeria e a Ybakatu Espaço de Arte, de Curitiba.
Para artistas e galeristas de Curitiba, do ponto de vista do negócio, estar fora do eixo Rio-São Paulo significa um obstáculo a ser superado. "Sem o intercâmbio de obras e artistas de outros lugares fica difícil sobreviver no mercado local", afirma Tuca Nissel, dona da galeria Ybakatu Espaço de Arte. "O meu trabalho sempre foi tentar mostrar um pouco desse talento doméstico, mas chegou uma hora que eu percebi que precisava sair", acrescenta.
Há sete anos, Tuca participa da feira Arco Madri, realizada na Espanha, uma das mais conceituadas do mundo no ramo da arte contemporânea. Trata-se de um investimento alto e com pouco retorno no curto prazo. "Na última edição da feira Arco Madri, o preço do metro quadrado custava 300 euros, sem contar os gastos com iluminação, logística e despachante", diz Tuca, que vendeu um quinto de todas as obras que levou para a feira. A Ybakatu representa 28 artistas cujo preço das obras podem vão de R$ 800 a R$ 60 mil.
"As feiras de arte são o evento mais importante do ponto de vista de negócio", avalia o proprietário da galeria SIM, Guilherme Simões de Assis, para quem o crescimento das feiras nacionais como a SP-Arte e ArtRio é um indicativo do bom desempenho do mercado brasileiro.
Colecionadores
Criada há dois anos, a SIM é a galeria mais jovem do mercado de Curitiba. Apesar da busca por outros mercados para promover o trabalho dos 15 artistas que representa, Assis acredita no potencial de Curitiba. "Nosso intuito maior é formar colecionadores em Curitiba", resume. Segundo dados do Projeto Latitude, 71,5% dos compradores de arte são colecionadores brasileiros privados.
Fundo captou R$ 40 milhões em três anos
O bom momento da arte brasileira nos últimos anos no mercado nacional e internacional motivou a criação do primeiro fundo de investimento com foco nas artes plásticas no Brasil. Criado em 2011, o Brazil Golden Art é um fundo fechado, no modelo de private equity, gerido pelo banco Brasil Plural. Nesses três anos, o BGA captou R$ 40 milhões vindos de 70 investidores.
"A maior parte são profissionais do mercado financeiro e colecionadores que apreciam a arte", diz Heitor Reis, sócio do banco Brasil Plural e principal responsável pelo fundo. Apesar da cota mínima de R$ 100 mil, o investimento médio oscila entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. O acervo tem hoje 630 obras que abrangem toda a produção contemporânea dos últimos cinco anos.
Segundo Reis, 70% da carteira de obras são de artistas emergentes que têm, em média, 10 anos de carreira. Mas também há peças de nomes consagrados como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Vick Muniz. Neste mês, chega ao fim o período de investimento do fundo. Depois inicia a venda das obras para remuneração dos cotistas.
"Só vamos saber a partir do momento em que as obras ganharem o mercado, mas a expectativa é que o retorno supere de duas a três vezes o valor do CDI", afirma Reis, que junto com outros investidores do BGA já planeja montar um segundo fundo cujo ativo seja a arte brasileira. No acumulado dos últimos 12 meses, o CDI soma 8,66%.
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