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Compras

As dívidas e o fator Papai Noel

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Um risco estará rondando o consumidor brasileiro nas próximas semanas. Ele pode vir disfarçado de velhinho, com roupa vermelha, barba e um exótico gorro com pompom na ponta, ou ainda na forma de belas roupas novas para serem usadas nas festas de fim de ano. Em ambos os casos, ele pode levar o indivíduo ao poço sem fundo das dívidas.

Historicamente, o nível de inadimplência das pessoas físicas costuma atingir seus picos no primeiro semestre, principalmente por causa de dívidas assumidas nos últimos meses do ano. Mas, se o Natal cai todo ano na mesma data, por que é que tanta gente desarranja as suas finanças por causa dele?

"Pura falta de programação", diz Samir Bazzi, professor de Administração Financeira do Unifae. "As pessoas sabem que o fim do ano é uma época difícil para o controle das contas, mas confiam demais que conseguirão pagar tudo com o décimo terceiro." Como o dinheiro não se multiplica, acabam fazendo empréstimos, entrando no limite do cheque especial ou pagando o valor mínimo do cartão. Aí é que as coisas se complicam.

Bazzi diz que não há segredo para conseguir manter as contas em dia nesse período, basta seguir uma única regra que deveria valer para o ano todo – planejar, usando um orçamento. "É preciso antecipar as despesas, em vez de comprar e se preocupar depois em como pagar", aconselha. Mas há algumas dicas que podem servir para organizar melhor as despesas. Em todas elas, no entanto, a palavra-chave é a mesma: planejamento.

A professora Ana Paula Mussi Cherobim, que leciona Economia Doméstica na Universidade Federal do Paraná (UFPR), divide as despesas de fim de ano em quatro grandes grupos: férias, presentes, festas e roupas novas. Cada uma delas exige uma postura diferente de enfrentamento.

A mais urgente delas é a das férias. "Programar férias exige antecedência. Quanto mais perto da alta temporada, mais caro vão custar passagens aéreas, hotéis ou o aluguel de casas na praia", observa a professora. "O ideal seria já estar com tudo reservado. Se não estiver, é bom começar imediatamente."

Os presentes são um dos casos mais delicados. É fácil perder a conta quando se está comprando uma infinidade de lembrancinhas para irmãos, tios, primos, cunhados... "É bom fazer uma lista de quem vai ser presenteado, em vez de sair comprando", aconselha Ana Paula. E comprar aos poucos – assim a despesa pesa menos e é possível fazer compras sem a agitação de dezembro.

Bazzi sugere ainda estabelecer um preço médio para cada presente. Isso significa que, se alguém ganhar um presente mais caro, outra pessoa terá de ficar com uma lembrança baratinha. "E procure pagar sempre à vista, para escapar dos juros", diz. Nunca é demais lembrar que os juros estão sempre presentes nas compras a prazo, mesmo que a loja diga que está vendendo sem acréscimo. "Peça desconto em todas as compras à vista."

Ana Paula defende que as compras de roupas também devem começar já. "Dá para escolher com mais calma, as lojas ainda não estão cheias", afirma. O cuidado, nesse caso, é para não exagerar. Afinal, festa de Natal não é desfile de modas.

O professor do Unifae também é adepto das compras antecipadas. "Pode haver uma ou outra promoção, mas em geral na época natalina os preços costumam subir", comenta. As compras de última hora ficam só para os perecíveis que vão compor a ceia ou o almoço especial do Natal. Mas mesmo na ceia há meios de planejar um pouco. "Dá para programar quem vai fazer o quê nas festas de família", sugere Ana Paula.

Ambos os economistas acreditam que o fim de ano será agitado. Em 2008 o Natal foi comemorado à sombra de uma crise, e muitas empresas fizeram demissões em massa em pleno dezembro. Desta vez, o mês deve ser marcado pela retomada econômica e por uma redução do desemprego. "A sensação de riqueza faz com que as pessoas se entusiasmem e comprem demais", descreve a professora Ana Paula. "Pode ser até que alguns ingredientes ou itens de decoração fiquem em falta por excesso de demanda", diz.

A possibilidade de descontrole, então, é grande. "Eu acho que vai ser uma farra de consumo", prevê Samir Bazzi. "Muitas pessoas vão gastar o que não têm e estourar o cartão de crédito." Melhor, então, ir com cautela às compras.

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