Brasília - Quase 30% dos brasileiros em idade economicamente ativa não estão trabalhando e também não se interessam em buscar um emprego. O Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou um perfil dos chamados "inativos", como são chamadas as pessoas que declararam ter feito apenas atividades não remuneradas no próprio domicílio ou não ter trabalhado nem procurado trabalho na semana em que a pesquisa foi realizada.
Do total de pessoas inativas consultadas, 29% do total, o Ipea detectou que pelo menos 31,3% deles nunca procuraram emprego, com 88% deste grupo sendo composto por mulheres. "Pode-se dizer que isso é esperado, uma vez que elas ainda costumam participar menos do mercado de trabalho que os homens. Ainda assim, o fato de a proporção de mulheres que nunca procuraram trabalho aumentar com a idade é sintoma de que a atual geração participa mais do mercado de trabalho do que as gerações anteriores", explicaram os técnicos do Ipea, em comunicado à imprensa.
Além disso, segundo o relatório, as mulheres, em média, estão há mais tempo na inatividade que os homens. Para o técnico do Ipea Bruno Amorim, os dados relativos às mulheres mostram mais uma mudança no mercado de trabalho, com aumento progressivo da participação feminina nas últimas décadas. De forma geral, as mulheres têm tempo de inatividade maior do que os homens.
Já entre os homens ocorre o inverso em relação à idade: quase todos os que nunca procuraram emprego estão entre os mais jovens. "A hipótese mais comum é que os homens mais jovens estariam se dedicando mais aos estudos", avalia Amorim.
Motivações
A pesquisa detectou que 57,4% das pessoas inativas não aceitariam oferta de emprego por vários motivos, mas que mais de 40% dos que responderam ao levantamento do instituto podem se encaixar de alguma forma na situação de "desempregado oculto pelo desalento". Isto é, eles gostariam de trabalhar, mas vários fatores o desanimam ou mesmo o impedem de procurar esse objetivo.
Isso mostra, conforme o Ipea, que os inativos não são todos iguais. "Sabe-se que nem todos os inativos não estão procurando emprego porque não querem trabalhar", afirma o documento. "O fato de não se aceitar uma proposta esconde um monte de causas", considerou Amorim.
Os pesquisadores apresentaram aos inativos vários motivos pelos quais uma pessoa não buscaria emprego, e os entrevistados tiveram de assinalar a importância de cada item em seu caso particular. Segundo o Sips, 44,9% dos inativos disseram não precisar trabalhar razão considerada importante por 38,9% dos homens e 47,2% das mulheres. Na outra ponta, 18,4% dos entrevistados inativos deram importância ao fato de o cônjuge não deixar ou não gostar que a pessoa trabalhasse (20,8% das mulheres e 12,3% dos homens citaram a alternativa).
As maiores disparidades de gênero entre os motivos para não buscar emprego estavam no exesso de afazeres domésticos (razão considerada relevante para 50,4% dos homens e 17,7% das mulheres) e na impossibilidade de deixar membros da família crianças, idosos ou deficientes com outras pessoas para ir trabalhar (45,3% das mulheres e 17,5% dos homens). Já em relação à idade, as maiores diferenças são relativas a problemas de saúde (razão considerada mais importante pelos mais idosos) e à falta de qualificação, considerada relevante por uma parcela maior de jovens.
Oferta de trabalho
Conforme o levantamento, a proporção de mulheres inativas que aceitariam uma proposta de trabalho é maior que a dos homens (47% contra 32%). Essa proporção, em ambos os grupos, porém, vai diminuindo com a idade. Os resultados da pesquisa mostram que quanto mais tempo a pessoa está inativa, menos ela tende a querer sair dessa situação. O Ipea identificou também que 65,5% dos inativos com pelo menos ensino médio incompleto aceitariam uma proposta de emprego, contra 36% daqueles com no máximo ensino fundamental completo. O levantamento foi realizado ao longo do segundo semestre do ano passado com 2.773 pessoas de todas as unidades da federação.
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