Herança de pais e cônjuges, hábitos enraizados, fidelidade a repórteres e colunistas, prova material de identidade e jeito de ver o mundo. Há várias maneiras de se descrever os laços de um relacionamento de décadas entre leitores e seu jornal diário. No caso da Gazeta do Povo são centenas de milhares de pessoas que acompanham o jornal com 98 anos de história. Hoje essa relação dá um novo passo. A era do papel jornal chega ao fim na Gazeta e aponta uma próxima fase para este relacionamento. A partir desta semana começa uma nova história entre os assinantes, e essa é uma história de expectativa e fidelidade.
Quando a Gazeta tomou a decisão de encerrar a circulação de sua edição impressa diária, tinha a previsão de reduzir em cerca de 40% sua base de assinantes. As razões pareciam evidentes: o assinante gosta do jornal diário e não migraria todo ele para o digital. Os resultados, entretanto, foram surpreendentes. Um total de 92% dos assinantes migrou para novos modelos de assinatura, superando todas as expectativas do jornal.
A aposentada Maria José Piana é leitora da Gazeta desde jovem. “Adquiria o jornal todos os dias, até que resolvi ser assinante. Sempre li e até hoje adoro ler a Gazeta”, conta. Ao longo da vida, coleciona vários recortes que são históricos para ela, como uma reportagem do Viver Bem que trazia uma foto de sua filha, Patricia, e diversas ocasiões em que o marido, Darci, apareceu no jornal. Agora, Maria José é uma das leitoras que está aprendendo a ler nas plataformas digitais. “É uma coisa totalmente nova. Sei um pouco de internet, mas não sou assim uma expert. Agora já estou me adaptando”, diz.
É uma mudança que tem que ser feita porque a gente não pode ficar parado no tempo. Temos que acompanhar o mundo, como se diz.
A notícia do fim do impresso diário mexeu principalmente com os hábitos de dona Maria José. Acostumada a ler o jornal diariamente durante o café da manhã, já está devidamente equipada para acompanhar sua versão digital. Ganhou da filha e do genro um novo tablet, para não abandonar a leitura do jornal após a mudança. “Vou acompanhar o mundo do mesmo modo, mais moderno. Na terceira fase da vida a gente se apega às coisas tradicionais, mas tem que modernizar. A gente entende”, relata.
Tendência mundial
Assinante da Gazeta “há muitos anos”, Luiza Helena Pimazoni Cortes diz que “ficou um pouco triste” quando soube do encerramento do impresso diário. Mas logo reconsiderou: “É uma coisa que a gente tem que aceitar por ser uma mudança para melhor”, avalia. Inicialmente avessa ao universo tecnológico, Luiza Helena conta que pretende encarar a transição para o ambiente digital com a ajuda dos filhos. “A gente entra na onda, é uma coisa gostosa. É uma mudança que tem que ser feita porque a gente não pode ficar parado no tempo. Temos que acompanhar o mundo, como se diz”, ensina ela.
O empresário Paulo Cesar Batista Junger da Silva, de 67 anos, assinante desde 2000, entende como “uma tendência mundial, natural das comunicações” a mudança pela qual o jornal está passando. “Estou feliz porque a Gazeta faz um movimento junto com grandes jornais e na frente de outros. Está fazendo no tempo certo”, avalia. Para o empresário, ler a Gazeta faz parte da rotina diária. “Tenho por hábito a leitura e me mantenho atualizado. Já li o jornal de ontem pelo celular e hoje já dei uma passada. Agora entro direto na informação que eu quero”, conta.
“Sou do tipo que guarda recortes de jornal. Tenho no armário umas quatro pastas de páginas que, quando a matéria interessa, acabo guardando”, conta o executivo João Arthur Mohr, assinante da Gazeta há cerca de 20 anos. “Na prática nunca revejo esses recortes, só guardo. É mais um tique do que algo que tenha resultado. Agora, se precisar, também posso guardar o eletrônico”, considera.
Quando soube do anúncio das mudanças, Mohr mandou uma mensagem para o jornal: “Parabéns pela iniciativa e transformação da Gazeta. Sou assinante há dezenas de anos acostumado com a versão impressa. Vou me adaptar à versão eletrônica e estou curioso para conhecer a edição semanal”.
Ineditismo
Bancário aposentado, Antonio Roberto Andretta vaticina: prefere o impresso ao eletrônico. Dito isto, completa: “Entendi como uma mudança natural. É um ineditismo, um primeiro passo do maior jornal do Paraná, que leio desde a década de 60”.
Para Andretta, a única coisa que faltava a ele era que se explicasse como se lê o jornal por completo em sua edição digital. Por isso aceitou o convite que a Gazeta fez a seus assinantes com mais de 60 anos para ter uma aula sobre como navegar pelo jornal eletrônico. “É simples, acabei gostando. Vou entrar e ler os artigos, o editorial, como faço todos os dias”, conta.