O quadro internacional adverso fez o Comitê de Política Monetária (Copom) oficializar como seu cenário "central" sobre os rumos da economia e da inflação o que vinha sendo tratado apenas como "alternativo". A hipótese de trabalho do Banco Central é que a atual crise terá um impacto equivalente a 25% do efeito da turbulência de 2008 e vai ajudar a colocar a inflação na meta mesmo com a continuidade do processo de queda "moderada" na taxa de juros.
Embora os discursos e a própria execução recente da política monetária apontassem nessa direção, o fato é que o Banco Central oficializou na ata do Copom um de seus principais documentos o cenário que vai guiar suas futuras ações. O mercado financeiro entendeu, após a leitura do documento divulgado ontem, que o BC vai continuar reduzindo a Selic no ritmo de 0,5 ponto porcentual. A dúvida está em até quando vai o processo de flexibilização dos juros.
"No cenário central, entre outras repercussões, ocorre moderação da atividade econômica doméstica, os preços das commodities nos mercados internacionais e a taxa de câmbio mostram certa estabilidade", explicaram os diretores do BC no texto da reunião da semana passada, quando por unanimidade decidiram cortar pela segunda vez a Selic, levando a taxa para 11,5% ao ano. "Mesmo com um ajuste moderado no nível da taxa básica de juros, a taxa de inflação no horizonte relevante se posiciona em torno da meta em 2012, em patamar inferior ao que seria observado caso não fosse considerado o efeito da crise internacional", completaram.
Inflação
No mesmo documento, alguns capítulos à frente, o BC explica que os cortes de juros servem para diminuir os impactos da crise externa no Brasil, sem comprometer o esforço de devolver a inflação ao nível de 4,5%. "O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012", argumentam os diretores.
Mas o próprio documento do BC acende a luz amarela. Nos dois cenários que usualmente costumavam ser tratados com prioridade pelo colegiado, o de referência (que supõe taxas de juros e câmbio constantes ao longo do tempo para prever a inflação) e o de mercado (que considera as expectativas do mercado financeiro para juros e câmbio), as estimativas para a inflação oficial em 2012 subiram e estão acima do centro da meta de 4,5%. Ou seja, a inflação não está completamente domada e segue acima do ideal no próximo ano.