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Custo do crédito

Ataques de Lula ao BC e dúvida sobre política fiscal pressionam juros futuros

Ataques de Lula ao Banco Central e incerteza sobre política fiscal do novo governo pressionam os juros futuros, que determinam boa parte do custo do crédito. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

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As críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à atuação do Banco Central (BC) e a incerteza em relação à política fiscal do governo têm contribuído para a alta dos juros praticados pelo mercado, o que dificulta o acesso a crédito pelo setor produtivo.

Embora já venham em curva ascendente desde o fim de 2020, os chamados juros futuros tiveram sobressaltos nas últimas semanas desde que o presidente passou a atacar publicamente a atuação do BC, em especial em relação à definição da Selic, a taxa básica de juros.

No dia 3, por exemplo, os contratos futuros de depósito interfinanceiro (DI) dispararam após uma entrevista concedida por Lula à RedeTV, na qual o chefe do Executivo teceu críticas ao BC, à taxa Selic e às atuais metas de inflação.

Em um único pregão, o DI com vencimento em janeiro de 2025 avançou de 12,97% para 13,275%. Os contratos futuros de DI refletem as expectativas do mercado em relação a taxa no de juros nas datas de vencimento de operações de empréstimo interbancário e são utilizados como referência para financiamentos de longo prazo tanto para empresas como para pessoas físicas.

Em conversa com jornalistas na semana passada, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, destacou que a Selic é referência apenas para operações de curtíssimo prazo. “O Banco Central opera o juro de curto prazo, mas o que baliza o custo do empréstimo que a gente toma como cliente bancário são os juros mais longos”, disse.

Segundo ele, os juros mais altos nos últimos meses já vêm freando o ritmo de concessões de crédito. Depois de uma alta de aproximadamente 14% na carteira total de empréstimos no país em 2022, o Itaú estima para este ano um crescimento mais modesto, de 8%.

O avanço das taxas de juros futuros reflete, entre outros fatores, as incertezas do mercado em relação à política fiscal. O período de crescimento coincide com a deterioração da regra do teto de gastos, com as propostas de emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, dos Benefícios (também chamada de "Kamikaze") e da Transição (ou "fura-teto").

Em dezembro de 2020, a taxa do DI com vencimento em janeiro de 2025 era de 5,64%, porcentual que escalou até 13,9% em novembro de 2022, logo após o fim das eleições e em meio às incertezas em relação à política econômica do governo Lula. No mês passado, a taxa recuou para 12,39%, mas passou a subir em meio ao embate do presidente contra o BC.

As sinalizações de conciliação feitas pelo presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira (13), ajudaram a reverter a tendência de alta ao longo de toda a curva de juros.

“O juro é determinado pelo mercado. Eu determino um pedaço do juro”, disse Campos Neto na entrevista. “Para isso propagar pela curva precisa ter credibilidade, e a credibilidade não se ganha simplesmente porque eu tenho uma vontade de cair os juros”, defendeu-se.

Ex-secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, Felipe Salto, atual economista-chefe da Warren Renascença, ressalta que o nível elevado dos juros no Brasil resulta de um histórico de falta de compromisso com a política fiscal.

“O juro estrutural, ou neutro, continua muito alto porque nós não fizemos nada do que devíamos ter feito, como medidas para aumentar a produtividade e as condições de oferta, para que o Brasil pudesse ter taxas de crescimento maiores e uma inflação acomodada em um patamar mais baixo”, diz.

“As mudanças que foram feitas no teto de gastos sem se colocar nada no lugar, por exemplo, explicam o porquê de os juros não cederem como se gostaria que cedessem”, prossegue. “É preciso resolver a questão fiscal para que esse obstáculo seja suplantado”.

O pacote de ajuste fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em janeiro, é considerado por Salto como um bom sinal para acalmar os ânimos do mercado. Ele considera, por outro lado, que os ruídos gerados pelo presidente da República na relação com o BC atrapalham.

Um controle maior das taxas de juros neutros, que permita um crescimento maior da atividade econômica, deve depender de uma definição em relação à possível revisão das metas de inflação – que pode ocorrer na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta quinta-feira (16) – e da apresentação da proposta de um novo arcabouço fiscal, que Haddad promete para abril.

“Se a política fiscal seguir essas indicações que foram dadas pelo secretário do Tesouro [Rogério Ceron], falando que o teto vai persistir, ainda que com modificações, que vai olhar também para a trajetória da dívida e para a receitas, é positivo. Mas a gente precisa aguardar para ver como vai ser o desfecho dessa questão do BC”, diz Salto.

Colaborou Fernando Jasper

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