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Sistema financeiro

Até agora, impacto da Selic era “invisível”

Frederiko Carnasciali pensa em trocar consignado por outras modalidades de crédito | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Frederiko Carnasciali pensa em trocar consignado por outras modalidades de crédito (Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo)

Até o anúncio da redução das taxas de juros do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, o consumidor ainda não sentia no bolso a política de redução da taxa básica de juros, a Selic, praticada pelo Banco Central desde agosto do ano passado. Agora, a situação pode estar começando a mudar.

Diante de um cenário em que o mercado oferece taxas de juros significativamente altas, uma alternativa para o consumidor sempre foi trocar a dívida cara – como cheque especial e rotativo de cartão de crédito – por outra mais barata. A opção disponível e indicada pelos especialistas é o empréstimo consignado, ou seja, com desconto na folha de pagamento. "O risco para o banco é quase zero e a os juros são mais baixos", aponta o economista Gerson Lima, diretor da empresa Macroambiente

Sempre que precisou de dinheiro, o agente administrativo do Ministério da Fazenda Frederiko Carnasciali optou pelo empréstimo consignado. O funcionário público empresta dinheiro no banco por meio dessa modalidade há mais de seis anos para as mais diversas finalidades: compra de material de construção, troca de carro e até mesmo para viagem de férias. "De outra forma não teria dinheiro para fazer tantas coisas, pois iria comprometer boa parte da minha renda", diz . "Hoje comprometo cerca de 30% do salário, o que permite renovar o empréstimo junto ao banco quando preciso", complementa.

Diante do anúncio de que os bancos públicos farão cortes reduzindo substancialmente nas suas taxas de juros do cheque especial e do cartão de crédito, ele já planeja renegociar com o banco os futuros empréstimos. "Vou esperar para ver se realmente as taxas serão baixas. Caso sim, vou procurar meu gerente para conversar", diz.

Histórico

Na mais recente ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na semana passada, o Banco Central sinalizou que a taxa básica de juros (Selic) deve ficar neste ano pouco acima do mínimo histórico – 8,75%, índice que vigorou entre julho de 2009 e abril de 2010. O consumidor, no entanto, não vinha se beneficiado diretamente com a medida no momento de ir às compras ou fazer um financiamento. As taxas de mercado, aquelas que o cidadão utiliza para adquirir a geladeira nova ou financiar o automóvel zero quilômetro, por exemplo, vinham crescendo.

Parte da explicação pode estar na estrutura do sistema bancário brasileiro. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil é o país que tem a menor concorrência entre as instituições financeiras. Na falta de uma disputa por mercado, os bancos lançam mão das altas taxas de juros. "Existe um cartel. Cerca de 85% das movimentações bancárias são dominadas por um grupo de cinco instituições", diz Gilmar Mendes Lourenço, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Para Gerson Lima, da Macroambiente, as taxas cobradas pelo mercado também são reflexo dos altos índices de inadimplência entre os brasileiros – 11%. Como parte significativa da população está endividada e há o risco real do não pagamento dos empréstimos, os juros brasileiros continuam sendo os maiores do mundo.

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