Manaus – Na capital amazonense, temperaturas acima dos 30 graus são rotineiras, e a umidade do ar chega facilmente aos 90%. O lugar é tão quente e abafado que alguns hotéis pedem aos hóspedes que mantenham ligado o ar-condicionado se abrirem a janela do quarto, "para não danificar os móveis e aparelhos elétricos". Os condicionadores de ar estão por todo lugar, inclusive na maioria dos ônibus do transporte coletivo.

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Com 1,6 milhão de habitantes, Manaus ainda possui um parque industrial razoável, atraído pela criação da Zona Franca, nos anos 60. O resultado de tamanho consumo é que não são raras as quedas de energia na cidade, que não é atendida por hidrelétricas. Toda a energia elétrica consumida vem de dezenas de usinas termelétricas movidas a óleo combustível.

Se não fosse pela Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC), os manauaras pagariam a conta de luz mais cara do Brasil – graças à CCC, pagam o equivalente a 25% do custo real. Criada em 1973 para subsidiar a geração de energia em regiões isoladas, a CCC é rateada por todos os consumidores de energia elétrica do país. O valor estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para este ano é R$ 4,5 bilhões, 25% a mais que os R$ 3,6 bilhões de 2005.

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Boa parte desse dinheiro seria economizada com a construção do gasoduto Coari-Manaus, que transportaria a reserva gigante de gás natural de Urucu – 18% do total do país – e reduziria a conta de luz a níveis "normais", dispensando o subsídio. Como 44% da CCC vai para Manaus, pode-se dizer que a cada mês de atraso no gasoduto os brasileiros gastam R$ 165 milhões.

A construção do gasoduto esbarra em obstáculos há anos. O primeiro foi político: o governador anterior, Amazonino Mendes, preferia que o gás fosse transportado por barcaças, operação mais cara. Com a nova gestão, a idéia foi deixada de lado e teve início o processo de licitação do gasoduto. Já foram lançados três editais diferentes, mas em todos as empreiteiras candidatas cobraram mais que o dobro do valor de mercado – e isso com a Petrobrás reduzindo ao máximo os custos. Uma das providências foi contratar o Exército para abrir caminho na mata.

"Isso acontece em toda obra na Amazônia. As empresas sabem que é importante e cobram mais", reclama Giovanni Paiva, gerente da Transpetro na região Norte. Para alguns trechos, diz Paiva, as empresas exigem US$ 83 por metro polegada, sendo que o normal é entre US$ 35 e US$ 38. O primeiro prazo para a conclusão da obra era dezembro deste ano, mas ela não deve ficar pronta antes do fim de 2007.