A Audi começa a escrever hoje um novo capítulo da sua história no mercado brasileiro. O CEO da marca, Rupert Stadler, e sua comitiva se reúnem com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, para formalizar o retorno da marca ao complexo Volkswagen, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. O anúncio oficial será feito às 14 horas, em coletiva de imprensa, na qual o executivo também detalhará as estratégias para Brasil e América Latina. Amanhã será a vez do governador do Paraná, Beto Richa, receber a cúpula da montadora no Palácio Iguaçu, às 10 horas, para a assinatura do contrato que sacramenta o novo investimento.
E novamente caberá ao modelo A3 e agora também ao utilitário esportivo Q3 a tarefa de plantar raízes definitivas da fabricante alemã em solo brasileiro, o que não ocorreu na primeira passagem, entre 1999 e 2006. Um mercado insuficiente e a alta do dólar inviabilizaram a permanência de uma versão nacionalizada do carro. A meta rentável de produção da Audi à época era de 20 mil unidades/ano, mas nunca superou as 14 mil unidades.
Se o cenário cambial de hoje chega a ser até mais inibidor do que naquele período, o mesmo não se pode se dizer da produção brasileira. Ela bate um recorde atrás do outro. O país figura como o quarto mercado do planeta e já belisca o Japão, para assumir a terceira posição em um futuro próximo, ficando atrás apenas de EUA e China.
O primeiro semestre de 2013 foi o melhor da história para a indústria automobilística nacional. Saíram da linha de montagem 1,86 milhão de unidades, com crescimento de 18,1% em relação ao mesmo período de 2012, que registrou 1,57 milhão de unidades, segundo a Anfavea, associação que congrega as marcas instaladas no país.
A própria Audi vem contabilizando números expressivos. Fechou os seis primeiros meses deste ano com 2,8 mil unidades emplacadas elevação de 40% no acumulado ante igual período de 2012. Deve acabar 2013 abaixo das 7 mil unidades previstas no início do ano devido à volatilidade do dólar. Mas, com o retorno ao Paraná, o recém-empossado presidente da Audi Brasil, Jörg Hofmann, faz uma projeção otimista de 25 mil a 30 mil unidades/ano até 2018.
A analista técnica de Fomento e Desenvolvimento da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Viviane Gariba de Souza, aponta ainda o programa Inovar-Auto do governo federal como talvez a grande diferença de hoje para a realidade vista no passado. "O cenário na década de 1990 também era propício, com uma abertura comercial favorável. Tinha uma economia pujante com o Plano Real, a inflação estava controlada e o governo Requião concedeu incentivos fiscais interessantes", lembra a especialista. O novo regime automotivo, no entanto, vai além. Entre os inúmeros benefícios, ele desonera o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em até 30%. Para tanto, as empresas precisam cumprir algumas diretrizes, como estimular e investir na inovação e em pesquisa e desenvolvimento dentro do Brasil. Em outras palavras, ter uma fábrica no país.
Pressão Federal
A estratégia do governo federal em pressionar as montadoras a nacionalizar seu produtos, em troca de benefícios tributários que refletem num preço final menor, vem surtindo efeito. Em dois anos, BMW, Chery, Fiat, Honda, JAC Motors, Mercedes-Benz, Nissan, Toyota e agora Audi anunciaram novas fábricas no Brasil. A Jaguar Land Rover deverá ser a décima da lista. Só a chinesa Chery promete investimento de 1 bilhão em sua unidade de Camaçari (BA); enquanto a alemã BMW injetará R$ 600 milhões em Araquari (SC).