Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Relações de trabalho

Aumenta pressão por reforma trabalhista

Empresariado aposta em Temer para afrouxar legislação do trabalho. | ASCOM/VPR
Empresariado aposta em Temer para afrouxar legislação do trabalho. (Foto: ASCOM/VPR)

A reforma trabalhista voltou ao centro do debate econômico. Entidades empresariais que apoiam o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e têm feito propostas ao vice-presidente Michel Temer (PMDB) alimentam a esperança de que a legislação das relações de trabalho seja afrouxada pela primeira vez desde os anos 1990, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) regulamentou banco de horas, trabalho por prazo determinado, suspensão temporária do contrato (layoff) e participação nos lucros e resultados (PLR).

Leia mais 1: Produtividade também depende de boas relações, diz economista

Leia mais 2: País precisa decidir se quer a rigidez da CLT ou a negociação coletiva

Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), recebidas por Temer nos últimos dias, argumentam que mudar as leis trabalhistas é fundamental para dar segurança jurídica ao setor privado e aumentar a produtividade da economia. Mas, para prosperar, as propostas terão de enfrentar a oposição de movimentos sociais e, principalmente, das centrais sindicais.

Já era sabido que a CUT, que é ligada ao PT e representa 30% dos trabalhadores sindicalizados do país, seria contra. Mas até aliados de primeiríssima hora do eventual governo Temer, como o presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho, também avisam que não querem mudanças.

Ele e representantes de outras três centrais (UGT, CSB e Nova Central) se reuniram com o vice-presidente na terça-feira (26), quando criticaram as propostas de cunho liberal do documento “Uma ponte para o futuro”, do PMDB, apresentado pelo próprio Temer no fim de outubro de 2015. “Ele nos garantiu que não haverá nenhuma mudança na questão trabalhista, que não mexerá nos direitos dos trabalhadores”, diz Paulinho.

Reivindicações

As principais reivindicações dos empresários na área trabalhista constam de uma lista de 36 medidas “indispensáveis” para reanimar a economia que a CNI entregou a Temer na sexta-feira (29). Entre elas estão a regulamentação da terceirização, aprovada há um ano pela Câmara dos Deputados, mas ainda em discussão no Senado, e a garantia de que pontos acordados em convenções coletivas – ou seja, em negociações entre sindicatos trabalhistas e patronais – prevaleçam sobre a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

A prevalência do negociado sobre o legislado, salvo quanto aos “direitos básicos” do trabalhador, é a única proposta da área trabalhista mencionada na “Ponte” do PMDB, e é frequentemente citada por interlocutores de Temer como uma das medidas que seu eventual governo pretende apresentar. A própria Constituição determina que o Judiciário reconheça as convenções e acordos coletivos de trabalho, mas é comum que a Justiça do Trabalho anule cláusulas que contrariem a CLT.

Hélio Zylberstajn, fundador do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho (Ibret), elogia a iniciativa, que segundo ele permitiria que cada categoria de trabalhadores, em cada localidade, faça a sua própria reforma trabalhista, por meio da negociação com os patrões. “É uma ideia muito interessante, uma vez que é muito difícil fazer uma reforma ampla da CLT”, diz o economista, que é professor da USP e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Mas ele também vê problemas. Um deles é a baixa representatividade dos sindicatos. Segundo pesquisas do IBGE, só 18% dos trabalhadores são sindicalizados, e mesmo esse número pode estar superestimado, segundo Zylberstajn. “Se você quer uma negociação para valer, precisa de sindicatos representativos. É importante estabelecer critérios mínimos. Se qualquer um puder negociar qualquer coisa, poderíamos caminhar para uma espécie de lei da selva.”

Para José Dari Krein, professor da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit), a legislação atual já é “muito flexível” e tem mecanismos para enfrentar a crise, como a redução de jornada e salário e o layoff. “Num momento de desemprego, como hoje, o poder de barganha dos sindicatos contra as empresas é pequeno, é uma relação muito desigual.”

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.