O aumento do preço da carne bovina puxado pelo crescimento das exportações do produto para o mercado chinês e alta do preço do boi gordo foi um dos principais fatores de pressão sobre a inflação dos produtos industriais na porta de fábrica nos últimos três meses, segundo Alexandre Brandão, gerente de análise e metodologia da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Esse movimento de alta do preço das carnes bovinas vem acontecendo desde agosto. A carne tem um aumento de custo, que é a compra do boi gordo pelos frigoríficos. Temos ainda uma demanda adicional da China, após os problemas que o país teve com a peste suína. Com isso você tem uma oferta menor no mercado interno e o preço sobe aqui também", explica Brandão.
O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que inclui preços da indústria extrativa e de transformação, registrou alta de 0,64% em outubro, a terceira consecutiva, divulgou o instituto nesta sexta-feira, 29.
Com alta de 2,12% - a maior desde junho de 2018 - os preços dos alimentos exerceram a principal influência sobre o resultado geral da indústria (0,47 ponto porcentual). Em seguida veio a atividade de refino de petróleo e produtos de álcool, com alta de 4,04% e influência de 0,41 ponto porcentual.
O preço da arroba (15 kg) do boi gordo está hoje na casa dos R$ 200. Em São Paulo, a arroba teve aumento real de 35% em um mês. Vendida até o mês passado por R$ 140, em média, chegou nesta semana a ser negociada por R$ 231.
Com o resultado de outubro, o setor de alimentos já acumula alta de 4,17% no IPP em 2019. Os destaques são justamente "carnes de bovinos frescas ou refrigeradas" e "produtos embutidos ou de salamaria de suíno, exceto pratos prontos". Se somados "rações e suplementos para animais" e "carnes de bovinos congeladas", os quatro produtos tiveram influência conjunta de 1,78 ponto porcentual na alta dos alimentos no mês de outubro.
Em relação à atividade de refino de petróleo, a alta de outubro foi a maior variação desde março (6,77%). O acumulado subiu de 11,83% em setembro para 16,35%.
"Os preços dos derivados de petróleo vêm sendo aumentados há algum tempo por uma política do setor. Mesmo com uma redução nos últimos dois meses nos (preços dos) óleos brutos de petróleo, o efeito nos preços da gasolina, por exemplo, não são imediatos", disse Brandão.
Na quarta-feira a Petrobras anunciou um reajuste de 4% da gasolina na refinaria. Em 2019 a gasolina já teve alta de 28% e o diesel de 19%, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Brandão destacou ainda a indústria extrativa como principal "âncora" dos preços da indústria, segurando uma alta maior após registrar queda de 4,76%, depois de uma outra queda ainda mais acentuada em setembro (-10,49%). A explicação foi o tombo da cotação internacional do minério de ferro e de óleos brutos de petróleo.