São Paulo - Os reajustes salariais das categorias de trabalhadores em 2012 devem se acomodar em um patamar médio semelhante ao de 2011 que, segundo projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), deve fechar o ano em algo entre 1,3% e 1,4% de aumento real. Se a inflação mais alta em 2011 atrapalhou as negociações entre trabalhadores e empresas e fez com que os aumentos fossem inferiores aos de 2010 (melhor ano da série do Dieese, com 1,66%), será a desaceleração da economia que deve dominar as discussões em 2012.
O ritmo mais lento da economia já pode ser observado nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o mercado de trabalho. A ocupação, que chegou a crescer 4,3% em maio de 2010 em relação ao mesmo mês de 2009, desacelerou a expansão para 1,5% em outubro de 2011 na comparação interanual. De acordo com o economista da LCA Consultores Fábio Romão, embora o crescimento médio de 2011 seja de 2%, a ocupação vem perdendo força há algum tempo e só não entrou no terreno negativo porque a População Economicamente Ativa (PEA) não cresceu e, assim, não pressionou o mercado de trabalho. "Com esse ritmo de crescimento da ocupação, não dá para acreditar que o poder de barganha nas negociações será maior em 2012", afirmou Romão.
De acordo com o IBGE, o rendimento médio real habitual (excluindo-se parcelas que não têm caráter contínuo mensal), que subiu 4% nos meses de maio, junho e julho na comparação interanual, registrou queda de 0,3% em outubro na mesma base de comparação, algo que não ocorria desde janeiro de 2010. Para a economista Zeina Latif, os dados confirmam que a desaceleração dos ganhos reais ainda está em curso. "Quando observamos os dados do IBGE, que incluem os setores informais, vemos que, ainda que muitas categorias tenham tido bons reajustes, o processo de ajuste do mercado de trabalho veio mais cedo do que se esperava e ainda não se consolidou", afirmou, reiterando que essa não era a expectativa há poucos meses.
Mínimo
A influência do reajuste de 14,13% no salário mínimo, para R$ 622 a partir de 1.º de janeiro, é importante, mas não determinante para os reajustes salariais das demais categorias. Para o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado, o aumento do mínimo deve atingir cerca de 50 milhões de pessoas em todo o país e colocar recursos para setores que produzem bens de baixo valor agregado, como vestuário, calçados e alimentação. "O salário mínimo empurra para cima a pirâmide social e tem impactos em toda a estrutura salarial, principalmente sobre os pisos", afirma.
Silvestre pondera, contudo, que embora o mínimo seja uma referência para os pisos salariais, isso não significa que o reajuste será o mesmo. "Certamente muitos pisos terão esse aumento de 14,13% ou algo muito próximo disso, mas é preciso olhar para toda a economia e considerar a crise", disse.
Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, embora o reajuste do mínimo seja um farol para as demais categorias, tudo depende do momento da negociação salarial e se a discussão central é sobre inflação, recuperação econômica ou crise. "O mínimo coloca um viés de alta em qualquer negociação, principalmente para as categorias menos organizadas. O problema é chegar na hora do acordo mais preocupado com a manutenção do emprego do que com o aumento real", analisa.
Negociação pode ser melhor no 2.º semestre
Os trabalhadores com data-base no segundo semestre do ano serão mais bem-sucedidos nas negociações por reajustes salariais em 2012 devido à desaceleração da economia, que ocorreu no terceiro e no quarto trimestre de 2011 e, em 2012, deve se concentrar nos primeiros meses do ano.
A desaceleração econômica já prejudicou as negociações das categorias com data-base no segundo semestre de 2011. Embora as categorias mais fortes, como metalúrgicos, bancários e petroleiros, negociem em setembro, a média de ganhos reais se manteve nos mesmos níveis do primeiro semestre 1,36%, segundo levantamento preliminar do coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre Prado. Segundo ele, embora as categorias mais organizadas tenham obtido bons reajustes, a maioria das categorias não conseguiu, o que puxou a média dos aumentos para baixo.
"Tivemos um bom desempenho em termos de reajustes no primeiro semestre, um pouco menores que os obtidos em 2010, mas nada expressivo. Mas a crise apareceu em maio e junho e teve reflexos nas negociações do segundo semestre", diz Silvestre, ressaltando que espera um recuo na magnitude dos ganhos reais no fechamento do segundo semestre. "Ainda que a crise não tenha efeitos imediatos, do ponto de vista das expectativas, ela conta muito", explica.
A economista Zeina Latif também acredita que os reajustes do primeiro semestre de 2012 serão inferiores aos do segundo semestre. "Acredito que teremos dinâmicas muito diferentes entre os reajustes do primeiro e segundo semestre. Isso porque, no primeiro semestre, ainda estaremos sofrendo os efeitos defasados da crise, e, no segundo semestre, passamos a ter uma dinâmica com um pouco mais de solidez", afirmz.
Para Zeina, porém, essa recuperação no segundo semestre não será tão forte quanto a verificada em 2009 e 2010. Segundo ela, embora os investimentos públicos e o consumo das famílias puxem a economia para cima, não há razão para acreditar que o crédito bancário vai crescer no mesmo ritmo do passado. "Teremos os investimentos para a Copa, mas isso, por si só, não gera uma dinâmica assim tão forte", afirmou.
Essa situação deve prejudicar a maioria dos trabalhadores brasileiros, pois 67% das categorias têm data-base entre janeiro e junho, segundo o economista da LCA Consultores Fábio Romão. Segundo dados do Dieese, cerca de 25% das categorias possuem data-base em maio. "A aceleração do PIB deve começar no segundo trimestre de 2012, mas só deve aparecer na forma de melhores dissídios no segundo semestre, quando a maior parte das negociações já tiver ocorrido", afirmou Romão.
Além da economia menos aquecida, outro fator que vai influenciar as negociações é a inflação. Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, em maio de 2012, quando boa parte das negociações for feita, a inflação acumulada em 12 meses deve girar em torno de 5,2% a 5,5%, bem menos que os 6,55% acumulados até maio de 2011. "O grande perigo é chegar na hora da negociação de um grupo forte, de maio, por exemplo, com a inflação no pico, porque isso cristaliza um patamar. Em 2011, chegamos ao pico da inflação nas negociações das categorias mais importantes", afirmou, ponderando que este não deve ser o caso em 2012.