O governo espanhol, focado em reduzir o déficit, adotará nesta sexta-feira um plano de austeridade que atinge os muito sensíveis setores de saúde e educação, com o objetivo de economizar 10 bilhões de euros suplementares por ano.
A principal medida da reforma da saúde, que busca economizar 7 bilhões, será, sem dúvida, a mais impopular: os aposentados, no futuro, deverão pagar seus medicamentos.
Um anúncio que contradiz a promessa eleitoral do presidente do governo, Mariano Rajoy (que assumiu o cargo em dezembro), de manter o poder aquisitivo dos aposentados, apesar da crise.
"Trata-se de pedir um esforço, que são alguns poucos euros ao mês para algumas pessoas. É necessário, imprescindível, porque não há dinheiro para atender o pagamento dos serviços públicos", disse Rajoy em uma coletiva de imprensa na Colômbia, onde realiza uma visita oficial.
"Peço aos espanhóis que entendam estas medidas, porque são justas e razoáveis. É duro pedir isso (...) mas lhes asseguro que no médio e longo prazo a Espanha vai sair fortalecida", disse Rajoy, do Partido Popular (PP, direita).
A ministra da Saúde, Ana Mato, alegou que "a Espanha é o segundo consumidor mundial de medicamentos" e lembrou que no ano passado no país foram destruídas 3.700 toneladas de medicamentos, expiradas ou não utilizadas.
Tradicionalmente, os espanhóis não pagam suas visitas ao médico e desembolsam apenas uma parte do preço dos medicamentos, com exceção dos aposentados, que não pagam nada.
Estes últimos, que representam três quartos do gasto farmacêutico nacional (11 bilhões de euros, 1,1% do PIB), deverão pagar 10% da fatura nas farmácias, até um teto de 8 a 18 euros por mês, segundo sua renda.
Os ativos, que até agora pagavam 40% do preço dos medicamentos, pagarão até 60%, segundo sua situação financeira.
Quanto à educação, o governo espera recuperar 3 bilhões de euros, autorizando as comunidades autônomas a aumentar os gastos de matrícula na universidade em 50%, que passarão de 1.000 a 1.500 euros, em média, e a aumentar em 20% o número de estudantes por classe.
As 17 comunidades autônomas são as primeiras afetadas por este plano de economias, já que absorvem 50% do gasto público da Espanha.
Três quartos de seus orçamentos são para a saúde, educação e ajuda a pessoas dependentes.
Nos últimos meses, várias delas tiveram dificuldades para pagar seus fornecedores, provocando o mal estar dos farmacêuticos e suportando cortes de aquecimento ou eletricidade em escolas e institutos.
Tocando em setores tão sensíveis, aumentaram as críticas contra o governo, especialmente por parte do Partido Socialista (PSOE), que declarou sua "frontal rejeição" a este novo plano de austeridade.
O plano representa "uma mudança de modelo do sistema nacional de saúde que deteriorará progressivamente o sistema e que busca desmantelar o sistema de saúde pública", condenou Trinidad Jiménez, responsável pelo tema da saúde no PSOE.
A Espanha, um dos países da Eurozona mais atingidos pela crise, enfrenta uma profunda recessão e tem um quarto de sua população economicamente ativa sem emprego.
O governo de Rajoy já havia anunciado o orçamento mais austero da história da Espanha, para economizar 27,3 bilhões de euros, e se propõe a cortar o déficit orçamentário em mais de três pontos em um prazo de 12 meses, de 8,51% a 5,3% do PIB.