Trabalhadores informais conseguiram incremento de 50% na renda em relação aos valores anteriores à pandemia graças ao auxílio emergencial, segundo estudo.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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A pandemia do coronavírus provocou queda média de renda de 18% para o trabalhador brasileiro, seja pela extinção dos postos de trabalho ou mesmo por reduções de jornada e salário. Mas o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal mais do que compensou essa perda. E teve impacto especialmente forte na renda dos informais, principais alvos do programa.

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A renda desse grupo aumentou em 50% em relação ao período anterior ao coronavírus graças ao benefício. Na média geral, trabalhadores tiveram incremento de 24% no rendimento com o benefício. Os dados constam de análise feita pelos pesquisadores Lauro Gonzalez e Bruno Barreira, do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV.

A dupla analisou dados da Pnad Covid-19, divulgada em junho pelo IBGE, para estimar os efeitos da pandemia sobre a renda domiciliar e o impacto das medidas extraordinárias adotadas para socorrer a parcela mais vulnerável da população. “O Brasil é um país de renda média, mas extremamente desigual, o que faz com que exista concentração de rendimentos, que são baixos de maneira geral”, aponta Lauro Gonzalez, que é professor da EAESP-FGV e coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da instituição.

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Esse ponto, que representa um problema histórico, ajuda a explicar porque mais de 64 milhões de brasileiros já haviam recebido o auxílio quando a análise dos pesquisadores foi feita. A outra parte vem das transformações recentes do mercado de trabalho, o processo de uberização ou “economia do bico”.

“Isso produziu uma característica importante nos últimos anos, que é a variabilidade de ganhos. As pessoas deixaram de desempenhar funções nas quais têm ganhos fixos, registrados, para atividades com ganho variável. Mas quando você tem um evento absurdamente impactante como a pandemia, isso afeta drasticamente a capacidade dessas pessoas em gerar renda”, analisa.

Impactos da pandemia sobre a renda

Os pesquisadores avaliaram a renda de 36 categorias profissionais de trabalhadores em geral, com rendas usuais que variavam entre cerca de R$ 1 mil e R$ 5 mil. Sem o auxílio emergencial, esses trabalhadores tiveram perda média de renda de cerca de 18% – sete dos 36 tipos de trabalho teriam perdas superiores a 30%.

Mas o pagamento do auxílio emergencial mudou o quadro e, pelo menos até junho de 2020, mais do que compensou a perda de renda com a pandemia para todas as ocupações analisadas na pesquisa. Em média, a renda com auxílio emergencial foi 24% maior do que a usual no período anterior à pandemia. Para 11 dos 36 tipos de trabalhos, isso representou um aumento de renda superior a 40%.

No caso dos trabalhadores informais, os pesquisadores ponderam que a renda usual no período pré-Covid-19 já era inferior e que eles teriam sido penalizados quase 2,5 mais do que os trabalhadores formais com a retração da atividade econômica se não fosse o auxílio emergencial. Para esse grupo, o aumento de renda com o benefício extraordinário foi de 50% no período.

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Embora os trabalhadores formais não tenham direito a receber o auxílio emergencial, eles podem ter tido compensações na renda pelo Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) – o IBGE não especificou os tipos de ajuda recebidas do governo. Gonzalez ainda explica que, pela metodologia da Pnad, as questões sobre renda referem-se não somente à renda do respondente, mas também de outras pessoas daquele domicílio, o que ajuda a explicar o aumento.

Veja as profissões cuja renda seria mais afetada e quais foram mais beneficiadas pelo auxílio emergencial

Reflexo do auxílio emergencial em outros indicadores

Na avaliação de Gonzalez, esse incremento da renda obtido pelo auxílio emergencial se reflete também em outros indicadores econômicos, como o Caged, que mostra a performance do mercado de trabalho formal. O Caged apontou que, em junho, foram fechadas 10.984 vagas com carteira assinada. Foram 895.460 contratações no mês ante a 906.444 desligamentos.

Apesar de o resultado ser negativo, o número de desligamentos é menor do que o registrado em meses anteriores. “Esperava-se um número maior de demissões do que aconteceu. Parte disso tem a ver com a manutenção do nível de consumo, graças à renda do auxílio emergencial”, pondera.

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Essa incorporação do auxílio que ajudou a manter e até aumentar a renda está relacionado ao fato de o brasileiro ter uma renda baixa, explica Gonzalez. “O fato de ter uma renda mal distribuída significa que tem um número grande de pessoas com renda usual baixa. Qualquer tipo de entrada de caixa extra se transforma, em boa parte, para o consumo”, avalia.

O cenário do segundo semestre é mais desafiador – e, para o pesquisador, pode ser mais complexo do que o do início da pandemia. “Tem o caráter de incerteza, que não sabemos quanto tempo isso vai durar. E ainda precisamos analisar o tipo de política que virá”, explica.

Para ele, duas coisas são mais importantes: o próprio auxílio emergencial e a manutenção na ativa de canais de créditos para micro e pequenas empresas – que, junto com os microempreendedores individuais, formam um universo de 17 milhões de pequenos negócios. Para o mercado de trabalho em geral, é hora de implementar soluções para resgatar aqueles que ficaram para trás e promover a inclusão produtiva dessas pessoas de alguma maneira.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]