Vista do aeroporto de Miami: pacotes de viagens mais caros tendem a direcionar o consumo dos turistas-viajantes para o mercado interno| Foto: Armando Raul Rodrguez

Turismo

Viagens internacionais já subiram, em média, 17%

Com a subida do dólar, as viagens internacionais nas próximas férias devem pesar mais no bolso. A alta da moeda americana já inflacionou os preços dos pacotes de turismo para o exterior, que estão em média 17% mais caros. Os meses de maio e junho são, tradicionalmente, os que concentram a compra de pacotes paras as férias de julho. Na CVC, maior operadora do setor, cerca de 60% das vendas nesse período são para pacotes internacionais, segundo Ricardo Luz, diretor geral de vendas em Curitiba. Até agora foram vendidos 25% dos pacotes para as férias.

Muitos turistas estão esperando mais para fechar seus pacotes de viagens, à espera para ver se o dólar volta a cair. "Não acreditamos que o turista vai deixar de viajar se o dólar continuar mais alto. Ele vai optar por gastar menos nas compras lá fora ou viajar pelo Brasil", afirma Luz. Segundo ele, um roteiro para casal em Buenos Aires, que custava R$ 2.550 há trinta dias, está saindo R$ 3.030. Uma viagem para Miami, que custa em média US$ 1.300 por pessoa, passou de R$ 2.220 para R$ 2.600.

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Impacto sobre a inflação é limitado

As incertezas em relação à crise e às eleições na Europa e à atuação do governo no mercado têm ajudado a estimular a alta do dólar nas últimas semanas. Mas os economistas ainda são céticos sobre a sustentação da cotação nos atuais patamares e os seus efeitos sobre a inflação.

O dólar teria de permanecer nesse nível ou subir mais por pelo menos três meses para um impacto maior no indicador. Estima-se que um dólar na casa dos R$ 1,90 por um período acima de 12 meses geraria um acréscimo entre 0,3 a 0,5 ponto porcentual sobre o índice de inflação.

Em fevereiro, a moeda americana oscilou na casa de R$ 1,70, subiu para cerca de R$ 1,80 em março e, nos últimos dias, se aproximou de R$ 1,90. Para o economista Luciano D´Agostini, do grupo de pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desen­volvimento, o dólar deve retornar para a faixa de R$ 1,70 até o fim do ano. A expectativa é de que a ampla liquidez no sistema financeiro global – proveniente principalmente da emissão de moeda nos Estados Unidos – jogue contra a apreciação contínua do dólar.

Segundo D’Agostini, o impacto imediato na inflação deve ser mínimo. "Até porque há um dinamismo menor da demanda, por causa do endividamento das famílias. Repassar preços não está tão fácil", afirma.

Para o professor Rodrigo Zeidan, da Fundação Dom Cabral, mesmo com os repasses de preços a alta do câmbio não deve pressionar a inflação. O câmbio não está caro, diz, só estava barato demais, e o importante é a moeda estabilizar. "Pior do que um câmbio barato ou caro é uma moeda volátil", afirma.

Nos últimos meses, além do agravamento da crise da zona do euro, o governo tem atuado no mercado para a moeda americana subir. O Ministério da Fazenda e Banco Central atuaram com medidas no fluxo de entrada da moeda no país – via aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e compras de dólares no mercado à vista para valorizar o dólar.

O objetivo do governo é melhorar a competitividade da indústria brasileira. "O dólar entre R$ 1,90 e R$ 2,40 ajuda a tornar mais competitivos os exportadores e serve de proteção contra a concorrência, principalmente dos produtos chineses", acrescenta Luciano D´Agostini. (CR, com agência O Globo)

Com estoques elevados de importados, as empresas ainda relutam em repassar a alta do dólar para os preços. Mas a subida da moeda americana – que atingiu o maior patamar em três anos – já pressiona os valores dos contratos fechados pelo comércio e pela indústria. Se o dólar se mantiver no nível atual, os repasses nos preços podem começar a ser sentidos entre 30 e 90 dias.

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O dólar alto afeta os preços de roupas, alimentos e bebidas importados e bens que dependem de insumos comprados no exterior, como eletroeletrônicos, além de pacotes de viagens internacionais.

Na importadora Porto a Porto, as novas encomendas já estão sendo fechadas pela nova cotação, segundo Pedro Corrêa de Oliveira, diretor-geral da empresa. "Por enquanto, o impacto negativo é na margem. Ainda não repassamos a alta do dólar. Mas, se a moeda continuar mais cara, o impacto no preço deve aparecer dentro de 30 dias", diz. A empresa, que comercializa produtos como conservas, azeites, bacalhau, doces, cervejas e vinhos, importa 100% dos cerca de mil itens do seu portfólio, que vêm principalmente do Chile, Argentina, Portugal, Espanha, Itália e França.

Para o empresário Chris­topher Oliver, proprietário das lojas de vestuário Capitollium, o câmbio deve ficar mais alto até o fim do ano. O impacto vai se dar principalmente na coleção primavera-verão, que começa a ser encomendada dentro de um mês. "A coleção outono-inverno já foi toda comprada, então não teremos problemas agora porque esse estoque está nas lojas. Mas a nova coleção, que chega ao mercado dentro de seis meses, vai ficar mais cara". Além do produto acabado, a alta da moeda deve provocar inflação também nos preços dos tecidos.

Os estoques elevados e a demanda fraca, porém, tendem a segurar alguns repasses em até seis meses, na avaliação de Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Os empresários vão aguardar para ver se o câmbio a R$ 1,90 veio para ficar. Isso os fará traçar novas estratégias, o que não é algo simples", diz.

Alguns setores já entraram em compasso de espera. Com cerca de 80% dos insumos atrelados ao dólar, a indústria química também vem adiando o fechamento de novos contratos para ver se a cotação pode ceder nas próximas semanas. Segundo Marcelo Melek, presidente do Sindicato das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Paraná, o estoque médio de importados do setor é de 28 dias, mas até agora não houve aumentos de preços produtos finais, até porque as vendas no mercado estão fracas. "Agora não há espaço para repasses", afirma. Estão sendo adiadas principalmente as encomendas da China, cujos contratos são fechados pela cotação do dia da compra.

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Ainda não há consenso entre as empresas se o dólar vai estabilizar no seu atual patamar ou vai voltar cair até o fim do ano. O câmbio alto, porém, poderá ter efeitos positivos sobre o consumo, segundo alguns setores, apesar do seu efeito inflacionário. "Muita gente aproveitou o dólar baixo para viajar e comprar roupas lá fora. Agora, a tendência é que esse consumo seja interno, o que é bom", acrescenta Christopher Oliver, da Capitollium.