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Os problemas envolvendo Lehman Brothers, Merril Lynch e AIG, combinados com a previsão de desaquecimento do consumo mundial, voltaram a provocar pânico e intensificaram a fuga de capital especulativo das commodities. Enquanto algumas das instituições mais tradicionais do capitalismo americano caem como dominós e economias desenvolvidas emitem sinais recessivos, investidores institucionais correm para sacar seus recursos aplicados em petróleo, metais e produtos agrícolas, fazendo desabar os preços dessas matérias-primas.

Como em outros períodos de crise de liquidez, o objetivo dos fundos com a venda de commodities, ativos que mais renderam nos últimos dois anos, é cobrir rombos gerados por papéis podres e financiar a aquisição de ativos tidos como seguros, como dólares e títulos do Tesouro americano. O mesmo é feito em relação a títulos, moedas e ações de países emergentes, como o Brasil.

Foi o que aconteceu, por exemplo, em março, quando o banco de investimento Bear Stearns teve de ser vendido para o JP Morgan devido a uma profunda deterioração em suas contas. Depois, os especuladores voltaram às commodities e levaram os preços a novas máximas históricas em junho.

Contudo, essa é uma história que não deve se repetir tão cedo. O cenário atual é diferente daquele observado em março porque os temores não dizem mais respeito apenas ao setor financeiro, mas à chamada economia real. "Nós já tivemos outras crises financeiras, mas as maiores economias iam bem. Agora, a crise é econômica", afirma Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. Para ele, a aposta de que as economias emergentes, especialmente China e Índia, continuariam puxando o crescimento mundial e a demanda por matérias-primas está caindo por terra e, com ela, o discurso que sustentava a alta das commodities.

Silveira lembra que os investidores começaram a correr em massa para as commodities na esteira da crise das hipotecas, em meados de 2007, quando os preços das ações começaram a cair, e os títulos de renda fixa ofereciam retornos abaixo da inflação. Agora, diante de sinais que a demanda por minérios, energia e alimentos deve ser reduzida, em um cenário de contração econômica, os investidores não viram outra saída se não liquidar suas posições.

É o que têm mostrado, semana após semana, os números da Comissão de Comércio de Futuros e Commodities (CFTC), órgão que regula os mercados futuros nos Estados Unidos. O exemplo da soja é emblemático: de julho para cá, o volume líquido de contratos de soja comprados pelos fundos caiu de 124,4 mil para 53,93 mil lotes (menor nível desde 2006), o que corresponde a uma venda de aproximadamente 16,86 milhões de toneladas em 10 semanas.

Um estudo apresentado na semana passada pelas firmas de investimento americanas Masters Capital Management e White Knight Research & Trading mostra que investidores institucionais haviam aplicado mais de US$ 60 bilhões em commodities por meio de fundos indexados entre janeiro e maio deste ano. Em um mês e meio, de 15 de julho a 2 de setembro, esses especuladores sacaram cerca de US$ 39 bilhões do mercado.

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