A derrapada de um avião militar, em maio deste ano, pesou no bolso da Embraer. O “incidente”, com um protótipo do KC-390, foi peça-chave no prejuízo líquido de R$ 467 milhões que a fabricante brasileira registrou no segundo trimestre deste ano. Excluído este fator, a companhia “reafirma todas as suas estimativas financeiras e de entregas para 2018”. A fabricante entregou 42 aviões no último trimestre. No ano, foram 73.
O caso ocorreu no dia 5 de maio, em Gavião Peixoto (SP), com o protótipo 001 do KC-390. O incidente não foi grave e nem houve ferimentos à tripulação, apenas danos na fuselagem e nos trens de pouso. Mas foi o suficiente para arranhar o caixa da empresa.
Isto porque a derrapada ocorreu em plena campanha de certificação da aeronave pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Para minimizar o impacto, além do protótipo 002, a Embraer está utilizando a aeronave 003 (cedida pela Força Aérea Brasileira) na conclusão da campanha de ensaio de voo.
Com isso, a entrada em serviço do KC-390 foi adiada para 2019, com a entrega da segunda aeronave (004) da série, e não mais no final deste ano (2018). Em paralelo aos testes de certificação, os quatro primeiros aviões da série já estão em produção.
Esta reorganização teve um impacto de R$ 458,7 milhões no caixa da empresa, já contabilizado nos resultados do 2.º trimestre de 2018, valor muito próximo ao prejuízo líquido (R$ 467 milhões) registrado pela empresa no período.
O KC-390 é a principal aposta da divisão de defesa da Embraer. A FAB é a cliente de lançamento do avião, com 28 encomendas. Investiu US$ 5 bilhões desde 2008 no desenvolvimento do modelo e na compra das unidades. O retorno ocorrerá ao longo dos anos com a venda para o mercado externo, na forma de royalties e impostos.
Parceria com a Boeing
Vale lembrar que o segmento militar não está incluso no acordo entre Embraer e Boeing, firmado (via “memorando de entendimento preliminar) em junho deste ano. A proposta prevê a criação de uma joint-venture na área de aviação civil, controlada em 80% pela Boeing, a um custo de US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 14 bilhões, em valores atuais). Os 20% restantes ficam com a brasileira.
No entanto, as duas empresas prevêem acordos mútuos de parceria que incluem o mercado de defesa. “Especialmente o KC-390, em oportunidades identificadas conjuntamente”, como consta no balanço da companhia. Há previsão, inclusive, de investimentos conjuntos para o desenvolvimento de novos mercados.
Há previsão de parcerias também para contratos operacionais de longo prazo “envolvendo serviços de engenharia, licenças recíprocas de propriedade intelectual, acordos de pesquisa e desenvolvimento, acordo de compartilhamento e uso de certas instalações e tratamento preferencial no fornecimento de certos produtos, componentes e matérias-primas”.
Previsão
A Embraer mantém a previsão de entregar, até o fim do ano, de 85 a 95 jatos comerciais e de 105 a 125 jatos executivos (70 a 80 jatos leves e 35 a 45 jatos grandes).
Durante os seis primeiros meses de 2018, a companhia entregou 42 jatos comerciais e 31 executivos (23 leves e 8 grandes). No mesmo período de 2017 foram entregues 53 jatos comerciais e 39 executivos (27 leves e 12 grandes).
A companhia espera que, “conforme sazonalidade de anos anteriores, as entregas do segmento de aviação executiva aumentem significantemente ao longo do 4.º trimestre de 2018”.
Resultados
Excluindo impostos, contribuições sociais e itens especiais, o lucro líquido ajustado da Embraer foi de R$ 2,3 milhões, ante lucro de R$ 409,4 milhões no segundo trimestre do ano passado (2017).
Já o resultado atribuído aos acionistas ficou negativo. A fabricante de aviões ainda registrou prejuízo líquido atribuído aos acionistas de R$ 467,0 milhões no período. No mesmo trimestre do ano passado, houve lucro atribuído aos acionistas de R$ 200,9 milhões.
O resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) despencou 83%, para R$ 140,4 milhões.
A receita líquida da Embraer recuou 20%, para R$ 4,533 bilhões, devido ao menor número de entregas nos segmentos de aviação comercial e executiva e à queda de 90% na receita do segmento de defesa e segurança por conta do incidente com o KC-390.